OBRIGADO POR SUA HISTÓRIA

domingo, 12 de junho de 2011

Ana Luísa Lacombe - Entrevista exclusiva.

Sou fã de carteirinha da Ana, todos os eventos que coincide de estarmos juntos, sempre dou um jeito de assisti-la. Ela domina técnicas impressionantes de narração e deixa o público extasiado. Seu trabalho é meticuloso e feito nos detalhes. É um prazer recebê-la no meu cantinho virtual.

Conheça seu trabalho:


Foto: Flavio Moraes

Ana Luísa Lacombe é atriz desde 1980. Há nove anos vem se interessando e pesquisando o trabalho de narração de histórias associando-o ao teatro. Ganhou vários prêmios com estes trabalhos: Prêmio APCA de Melhor atriz 2003 com “Fábulas de Esopo”, além de três indicações para o Prêmio Coca-cola (melhor texto, melhor atriz e melhor espetáculo);  Prêmio APCA de Melhor Atriz 2006 e também  Prêmio Femsa Coca-cola de Melhor atriz com “Lendas da Natureza” e ficou entre os três finalistas neste mesmo prêmio como Melhor espetáculo. Seu último espetáculo “O Conto do Reino Distante” foi ganhador do Edital de Montagem Inédita do PAC 2007 da Secretaria de Estado da Cultura e do Prêmio APCA de Melhor Atriz 2008, além ser indicado para o Prêmio Femsa Coca-cola para Melhor texto e melhor Atriz . Em 2010 O projeto Trilogia Faz e Conta comemorando 30 anos de carreira da atriz colocou em temporada seus três espetáculos e um ciclo de palestras oferecido para várias instituições de São Paulo capital e interior. É curadora do projeto “Sipurim – Hora da História” do Centro da Cultura Judaica. Dona da Casa do Faz e Conta em São Paulo, espaço destinado a cursos e apresentações de narração de histórias. É uma das fundadoras do Centro de Reflexão do Teatro para Infância que promove encontros e eventos para refletir sobre esta arte.
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Foto: Flavio Moraes
Jiddu Saldanha – Como foi que você começou a se interessar pela arte de contar histórias?
Ana Luiza Lacombe - Vendo uma amiga minha bailarina e atriz contando, a Leila Garcia. Era tão encantador que fiquei com aquela idéia na cabeça. Isso foi 1994. Abri uma pastinha sobre este assunto no meu computador e já dei o nome de “Faz e Conta”. Eu tinha vontade de juntar minhas habilidades de aderecista, artista plástica, atriz com a arte de contar histórias.
Eu estava cansada de trabalhar em grupos de teatro e queria experimentar algo mais autoral. Queria escolher os temas sobre os quais desejava falar. Num grupo temos que chegar a um consenso e nem sempre o espetáculo escolhido para ser montado refletia o meu desejo. Queria ser dona do meu discurso. Mesmo o texto não sendo meu, quando eu o estudo eu me aproprio dele. Ele passa a ser meu.
Mas isso só começou a acontecer em 2002. Entre o desejo e a realização passaram-se 8 anos!

JS – Quando você escolhe a história que vai contar, fica envolvida demais ou se distancia para lidar melhor com o tema?
ALL - Primeiro me envolvo com a história, preciso adorar a história e me emocionar com ela, rir com ela, torcer com ela. Mas na hora do estudo técnico há que se ter um distanciamento.
Sou bem virginiana no meu modo de trabalhar. Metódica e estudiosa. Leio o texto várias vezes em voz alta para perceber sua musicalidade. Depois coloco o texto em arquivo de Word e vou trabalhando um pouco na frente do computador, mexendo nele, moldando-o à minha voz. Vou escrevendo e lendo em voz alta para sentir a melodia. Quando chego num resultado satisfatório começo a fazer o trabalho de estudo mesmo, divisão de cenas, curva climática, etc. Quando termino isso, já estou bem dentro desta história. Aí começo a falar sem olhar para o texto, tentando soltar a língua. E aí é repetir, repetir, repetir...

JS - Todo contador de história sempre tem histórias pra contar sobre sua experiência de campo, gostaria que você relatasse alguns momentos marcantes da sua carreira.
ALL - São muitos. Contar histórias propicia situações maravilhosas e emocionantes.
Meu primeiro momento solo foi marcante. Logo que comecei a contar, me sentir sozinha na cena... Sempre fiz teatro de grupo e trabalhei em equipe. Sentir que a bola estava exclusivamente na minha mão era, ao mesmo tempo, temerário e desafiador. Manter todos os olhares interessados em você é difícil... Mas tudo se aprende nesta vida. Hoje estou bem confortável neste lugar.
Trabalhei durante dois anos contando historias em hospitais e um ano na AACD. Essas duas experiências foram lindas e cheias de momentos inesquecíveis.
No hospital as primeiras sensações foram de relativizar todos os problemas da minha vida. Perceber a força das pessoas que tinham que lidar com situações limite. A escolha de repertório tinha que passar por muitos filtros. Mas crianças são crianças em todo lugar e, mesmo debilitadas, elas sorriam e se divertiam e nós esquecíamos que estávamos ali. Histórias de lobo no hospital eram uma coisa incrível. As crianças ficavam numa excitação louca. O medo do lobo parece que resolvia todos os medos inexplicáveis que eles sentiam ali. Quando contávamos essas histórias parecia que depois da excitação o ambiente ficava mais leve.
A AACD tive um trabalho muito gratificante. Eu ia toda semana e pude construir um processo com as crianças. No final eles inventavam histórias a partir de cartas com figuras que eles sorteavam. Mesmo os que não falavam contribuíam através de suas “bandejinhas” com figuras que eles usavam para se comunicar. Criaram histórias incríveis e eu fiquei muito feliz e orgulhosa com este trabalho.

JS – Desde o início da caminhada na arte de contar histórias, o que você acha que mudou em relação ao mercado de trabalho, há mais aceitação por parte do público hoje do que antes?
ALL - Acho que sempre houve aceitação, mas acho que hoje não preciso explicar tanto o que eu faço. Mas o fato do mercado ter se expandido muito fez surgir também os interessados em “cachê”, que não têm nenhuma pesquisa sobre a arte e fazem coisas bem questionáveis. Isso faz parte da vida. Qualquer coisa que começa a chamar atenção sempre atrai curiosos e oportunistas. O mercado acaba peneirando.

Foto: Flavio Moraes
JS – Você esteve na Espanha, que tipo de proximidade você viu entre os narradores de lá e os daqui?
ALL - Não consegui assistir contadores de histórias de lá... Infelizmente. Mas trouxe muitos livros. Trouxe histórias do Palácio de Alhambra e contos populares espanhóis. Vim com muita vontade de montar um repertório “caliente” cheio de leques e violões.

JS – Você sempre tocou um projeto fixo de narração de histórias em São Paulo, junto ao Centro da Cultura Judaica, como foi/está sendo esta experiência?
ALL - Estou lá há sete anos. Adoro este trabalho. Não sou judia e o fato de trabalhar no CCJ me obrigou a estudar a cultura judaica. Tornei-me uma apaixonada por esta cultura, suas histórias e seus autores. Lá desenvolvemos um projeto bem bacana, Sipurim – Hora da História, unindo a programação de narração de histórias com as exposições que estão em cartaz no espaço. Depois das apresentações oferecemos uma oficina para as crianças e às vezes uma visita monitorada à exposição.
No ano passado fizemos um projeto lindo sobre Portinari por conta da exposição de seus quadros produzidos a partir de uma viagem que ele fez a Israel. Contamos a infância, a vida adulta, a relação com o avô e terminamos num happening com poesia, musica e a produção de um painel feito por uma artista plástica com intervenções das crianças. Foi lindo!
Outra coisa maravilhosa deste trabalho foi poder estar perto e conhecer pessoalmente figuras inigualáveis como José Mindlin, Moacyr Scliar, Fanny Abramovich, Mirna Pisnky, Lia Zatz, Nelson Ascher, Betty Mindlin entre outros, por conta dos Cafés Literários que eu coordenava. Li contos desses autores ao lado deles e isso é um privilégio.

JS – Que tipo de sugestão você daria para os novos contadores de histórias que estão surgindo agora? Você tem uma oficina permanente, né? Fala pra nós como é este trabalho e o novo espaço que criaste?
ALL - Acho que quem está começando agora tem que assistir muita gente antes de se aventurar a sair contando. É bom entender o que é esta arte e encontrar a sua “pegada”. É um trabalho pessoal e cada um tem que encontrar o seu jeito. Dou oficinas em vários lugares, mas agora abri um espaço meu, a Casa do Faz e Conta aqui em São Paulo. Além de mim, mais 3 professores compõem minha programação de cursos: A Leila Garcia (aquela primeira contadora que vi), Kelly Orasi (com quem fiz meu primeiro curso de contar histórias) e Betinho Sodré (um dos primeiros músicos a me acompanhar como contadora). Pretendo que lá seja um espaço de reflexão sobre esta arte. Além de cursos teremos apresentações e encontros para troca de experiências. Estou bem animada com esta nova empreitada e cheia de planos para a Casa. Ela ficou linda! É pequena e acolhedora como uma casinha da floresta...

JS – Quem é Ana Luísa Lacombe por Ana Luísa Lacombe?
ALL - Sou uma trabalhadora incansável e apaixonada pelo que faz. Perfeccionista, exigente e delirante. Estou sempre com mil idéias e projetos, gosto de trocar experiências e reflexões com outros artistas. Gosto de me relacionar com diferentes grupos de teatro e contadores de histórias. Quando podemos trabalhar com os outros arejamos nosso próprio trabalho. A Yoga, a música, minhas plantas são minha âncora. Minha família está longe (estou aqui em Sampa e eles no Rio) mas tenho meus pais e minha avó sempre perto me apoiando e me inspirando. Adoro família, festas de família, ritos e memórias...

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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Sobre o Suicídio de Artistas! (Crônica)

Bárbara Morais, atriz e estudante

Chaplin, em sua biografia, conta dos artistas que começaram a se suicidar por volta de 1912. Artistas que ficaram desesperados quando perceberam que o surgimento do cinema fez nascer um conceito de mito, de fama, muito diferente do que estavam acostumados!

Tenho ouvido discursos semelhantes de vários colegas, alguns estão considerando a possibilidade do suicídio, por se julgarem inúteis e mal encaixados num mundo globalizado e rapido como é hoje em dia!
Há aqueles que estão migrando para outras profissões e passaram a acreditar que relamente não é possível viver de arte, principalmente nos tempos atuais, onde o conceito de mito e celebridade passou a exigir cada vez mais um apelo imediato e de total empatia com o público numa velocidade record.
A depressão, o medo, a angústia e a solidão tem sido uma constante na nossa profissão, sobretudo um sentimento de inutilidade e um certo vazio causado pela profunda falta de esperança. Há o medo de chegar à velhice sem qualquer cobertura do estado e/ou uma garantia de descanso depois de uma vida de trabalho.
Alguns sentem medo de perder seus companheiros ou companheiras por não conseguirem uma forma digna de prover o sustento e dar garantias para a família.
Na minha opinião, esses fantasmas sempre existiram na vida do artista. Se hoje vivemos uma pressão econômica maior, em tempos outros, era bem difícil lidar com o TABU da profissão. Hoje em dia o artista é depreciado e amado e é mais aceito na sociedade de consumo!
Não vejo o Suicídio como uma saída para ninguém, também acho que é saudável manter um tom otimista e trabalhar um pouco por dia para mudar a sua condição. É importante, no entanto, ter consciência de que o conceito de mito e poder hoje em dia é bem diferente da época do chaplin, mas as perguntas persistem:
Afinal, o que é ser, de fato, um bom artista?
O que é preciso para sentir-se feliz sendo artista?
                    
Jiddu Saldanha
03/06/2011