OBRIGADO POR SUA HISTÓRIA

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Entrevista exclusiva com Mano Melo.

Mano Melo, nome de peso da poesia brasileira, um dos maiores declamadores do Brasil. Desde que cheguei ao Rio de Janeiro, em 1993, tenho acompanhado a carreira deste incansável artista. De ator a poeta, de escritor a cronista e filósofo. Mano, na verdade é uma usina de arte ambulante E matriz de de um estilo único  de falar poemas. Sua oralidade reconhecida faz com que ele sempre se apresente no Simpósio Internacional de Contadores de Histórias. Cada poema seu tem uma tirada que sempre rende uma bela história, então, vamos conhecer este cearense que vive no no Rio de Janeiro.
Mano Melo, um dos maiores declamadores brasieleiros
de todos os tempos.
Jiddu Saldanha – Quando a poesia começa a invadir a vida de um poeta como você, onde ela te encontrou? Em que idade, em que lugar do planeta?

Mano Melo - Foi no Ceará, ainda no curso primário, quando ouvia um menino mais velho dizendo poemas numa hora de arte que tinha uma vez por mês na escola. Ele interpretava lindamente um poema chamado A Morte do Cão: “eu tinha um cão, chamava-se Veludo. Esquálido, pulguento, imundo/ o mais feio cão que havia no mundo...” Então o homem da história levava o cão num barco e jogava no meio do mar. Na volta, percebe que perdeu um medalhão que sua mãe lhe dera antes de morrer, única recordação de sua querida mãezinha.Debulhou-se em lágrimas, quando ouviu uma respiração perto dele. Era o Veludo. Na boca, ele trazia o medalhão perdido. O cão cai aos seus pés. Ele chama: Veludo! Veludo!  Veludo estava morto. Meu colega interpretava isto muito bem, eu ia às lágrimas ao ouvi-lo. Não sei de quem é o poema, tenho que procurar na Internet. Uma vez o Affonso Romano me soprou, mas esqueci. Foi a primeira vez que tive contacto com a poesia. Tinha uma prima também que dizia um poema assim: “A morte: da morte ninguém escapa/ nem o cura/ nem o Rei/ nem o Papa/ Ah! Já sei/ quando Dona Morte vier/ Eu compro uma panela bem grande/ Me escondo dentro dela/ E quando Dona Morte chegar, lhe digo: aqui não tem ninguém/ Vossa Excelência passe bem.“ Mais ou menos assim.Também não sei de quem é, mas adorava ouvi-la dizer. Depois teve um tio que deu uma pirada, e os livros dele vieram pra minha casa. Abriu-se um mundo mágico pra mim, antes só lia histórias em quadrinhos. Haviam  muitos livros de literatura nas estantes de meu tio Pereira, Zé Lins, Jorge Amado, Graciliano, estas coisas. E também livros de poesia. Como não era bom de futebol nem de briga, passei a escrevinhar uns poemas pra dizer ao mundo que existia.
Dai nunca mais parei!

Mano Melo e Claufe Rodrigues - Velhos amigos.
JS – E daí você entrou numas de ler, quem veio primeiro, os clássicos? Os poetas da vizinhança, qual é o mapa de leitura de Mano Melo?

MM - Histórias em quadrinhos, principalmente de caubóis, depois Edições Maravilhosas, que quadrinizava grandes clássicos.Fiquei impressionado  com adaptações do Ulisses e da Odisséia. E também com a dos Os Miseráveis, de Victor Hugo. Meu herói passou a ser o Gravoche, o menino que participava da Revolução Francesa. Neste período, também li muito fotonovelas, Capricho, Sétimo Céu, essas coisas, que minha madrinha tinha coleções e coleções. Teve esse lance das estantes do meu tio, no qual descobri a verdadeira literatura. Quando vim ao Rio, com 16 anos, conheci meu tio João, marido de minha  tia Gerarda, que era médico e uma pessoa de vasta cultura. Quando ele morreu, fui morar na casa de minha tia e lá haviam muitos, mas muitos livros, estantes até o teto. E justamente o quarto da biblioteca é que ficou sendo meu quarto. Tinha Goethe, Sófocles,  Aristófanes, muitos clássicos. Mas quando descobri as obras completas do Fernando Pessoa, pirei. A identificação foi tão grande, que quando o poeta ficou muito popular, eu tinha ciúmes, achava que só eu o entendia, como se estivessem devassando minha alma.  Sabia de cor Tabacaria , O Guardador de Rebanhos, Poema em Linha Reta e muitos outros.  E se já tinha mania de escrevinhar desde pequeno, essa descoberta foi um salto adiante,  jurei transformar-me numa máquina de escrever. Era o início de me assumir como verdadeiramente um poeta.

JS – No Rio de Janeiro, a Boemia, a mulherada... os recitais, o cinema, como foi esse momento?

MM - Quando terminei o curso secundário, fiz vestibular para o Conservatório Nacional de Teatro, hoje Unirio, que ficava no prédio da UNE incendiado no golpe de 64. Ficava ali na Praia do Flamengo. E também para o IFCS, estudando Filosofia. Fiz as duas faculdades simultaneamente. Aos 18, minha família conseguiu para mim um emprego de caixa de banco, quase fiquei maluco. Passei a escrever uns poemas tenebrosos, ainda hoje me lembro de um: “Aqui jaz um corpo inútil/ que viveu uma vida fútil/ e que agora não é mais nada/ a não ser decrépita ossada“.  Tinha isso pendurado na minha caixa no banco, a clientela não entendia nada, a gerência menos ainda. Então me convidaram para protagonizar o curta metragem, Atitude Nova Vida, direção do Pedro Jorge Cunha. Ou fazia o filme ou continuava no banco. Então pedi demissão. Ou melhor, fiz com que me demitissem, pra não perder a indenização. Que alivio! Se não tivesse tomado essa decisão, talvez não estivesse aqui contando essa história, Jiddu. Recebi a indenização, torrei tudo. Freqüentava muito o Zicartola, Estudantina, rodas de samba, essas coisas. Me apaixonei perdidamente por uma dançarina do Cabaré Brasil Dourado, da Lapa. Ela se chamava Gina Rossi, linda, muito linda, uma deusa, Afrodite feita humana.  Ela me achava um garoto, e com razão. Tomava porres homéricos, sentado no meio fio, chorando rodriguianamente lagrimas de esguicho, suspirando por ela. Ela me ensinou muito de erotismo, eu era um bobo que não sabia de nada, ela foi a transição para minha vida adulta. Ela adorava teatro de revistas e fiz um aprendizado profundo dos atores populares em companhia dela, assistindo Costinha, Colé, todas aquelas feras. Sem contar aquelas vedetes de pernas maravilhosas. Ao mesmo tempo, acontecia a Nouvelle Vague, o cinema novo, o Cine Paissandu, os grandes e marcantes espetáculos de teatro, Rei da Vela, Opinião, Liberdade Liberdade, Morte e Vida Severina. A morte de Edson Luiz, a passeata dos 100 mil, 1968, as escaramuças contra as forças da repressão. 

João do Corujão e Mano Melo, conspiração e piração
na certa!
JS – E daí veio o pé na estrada, anos 70, a caminho da Índia, ou foi Europa primeiro?

MM - Peguei um avião Rio de Janeiro – Bombay. Como tinha umas amigas em Paris, Marli e lamara; fiz escala lá, fiquei quinze dias. Elas estavam indo pra Grécia e me convidaram pra ir junto, num roteiro que incluía Suíça e Itália, Firenze.   Fiquei  uns quinze dias em Atenas.  De lá, as meninas ficaram e tomei o avião pra índia.

JS – E os amigos, a saudade? Qual era o contexto, o mundo hippie? A busca espiritual? A desilusão com a ditadura?

MM - A saudade era enorme, mas não dava pra ficar pensando. E também estava ávido de viver coisas novas, descobrir o inédito, o inaudito. Não sei se podemos chamar mundo hippie, talvez, porque detesto rótulos. Era o que era, sem rotulações. Haviam muitas pessoas na estrada, homens e mulheres, uma tribo nômade numerosa, e a Meca era Goa, na Índia, era lá que as coisas estavam acontecendo. E era pra lá que eu queria ir. O Brasil em plena ditadura, a busca era ver o que se escondia por detrás da palavra Liberdade, viver sem laços ou liames, apenas a estrada, a luta quotidiana por sobrevivência. Aprendizagem. Desenvolver seu ser individual, as potencialidades, sem amarras, o mais próximo possível da Liberdade absoluta, sem pátrias, sem família, sem profissão, sem amores fixos, apenas a estrada e a alma aberta para viver o que fosse acontecendo.

Em Cena, Mano Melo é imbatível na arte de falar poemas,
ele tira de letra e arrebata o público!
JS – E a música, as bandas na Holanda, os coffe shop, como foi isso?

MM - Estava no Afeganistão nas vésperas da invasão russa, fui me refugiar na Holanda, porque encontrei muitos holandeses na estrada e eram pessoas da melhor qualidade. Cheguei  em Amsterdam  no auge do inverno, dezembro, sem tostão.  Arranjei trabalho numa tea house  dessas bem freaks. Lá pra fevereiro os donos, Ucci e Charles, estavam de saco cheio e me propuseram, a mim e à grega Kathy, que hoje é uma poeta reconhecida em seu país, tomarmos conta do lugar, sobre a promessa de devolver a casa na primavera, que era quando começava a entrar dinheiro. A gente trabalhava ali, eu, Kathy, o Witzel pai do Ucci e uma garota australiana, a Lidia. Não havia capital, a gente vendia sanduíches, chá e café, o que a gente apurava, gastávamos no supermercado pra renovar o estoque, pelo menos tínhamos o que comer. Na primavera, quando a casa começou a lotar, Charles e Ucci propuseram que continuássemos a administrar a casa. Eles apenas se reservavam o direito de não trabalhar, entrando na partilha dos lucros. Então a casa começou a encher, virou moda, ficava no centro de Amsterdam, no coração do turismo, entre  a Centraal Station e a Praça do Dam. Então começou a entrar muita grana. Trabalhávamos  das 3 ás 3, nem dava tempo de gastar. Aluguei uma casa barco (houseboat). Por ideia minha, fizemos do lugar um ponto de cultura, passando filmes do Glauber, passando filmes africanos, apresentando bandas alternativas da cidade.  O lugar ficou um ouriço, muita gente, muito agito. E entrava também muito dinheiro, guldens holandesas, marcos alemães, coroas suecas, francos franceses e suíços, dólares. Mas lá para a metade do verão já estava de saco cheio, contei o dinheiro, passei minha parte  adiante e fui em busca de um lugar ensolarado na beira do mar. Portugal estava em plena euforia pós revolução dos cravos e então fui pra lá. Quando fiquei duro de novo, voltei pra Holanda.

Com Affonso Romano de Sant'Ana, Dalberto Gomes e
Carla Gomes. Gerações da poesia com Mano Melo.
JS – A tua poesia foi ficando filosófica? Ou os temas eram livres mesmo!

MM - Sempre tinha cadernos em que escrevia, quando o caderno acabava, copiava as partes mais substanciais, burilava e ia acumulando, o que deu num livro que batizei de O Cangaceiro  Elétrico, que depois fiz uma edição em Portugal, em minha segunda estadia no pais.
JS -  Quando exatamente nasceu o clássico Sexo em Moscou?

MM - Um dia, já de volta ao Brasil, com insônia, comecei a pensar nos meus tempos de ativista político na Universidade. Me veio o nome Lenine, que motivou o primeiro verso: “ me Lenine toda, meu bem, me Lenine toda, todinha!”   Aí comecei a rir sozinho, fui me lembrando dos ícones do comunismo e construindo versos para fazer rir. Me diverti muito. O dia seguinte havia o lançamento de uma revista capixaba num bar em Ipanema. Levei o poema pra lá, ainda manuscrito, nem sonhava com computador. Aí me chamaram ao palco e disse que havia acabado de escrever um poema que não tinha nome ainda, não sabia se o nome seria Amor em Moscou ou Sexo em Moscou. O Cazuza, que estava na platéia, gritou: Sexo em Moscou! Aí o nome ficou sendo este, quem batizou foi o Cazuza. Comecei a dizer o poema e me surpreendi com a reação da platéia, todo mundo ria, ria muito, e fiquei empolgado, não sabia que o poema teria tanto impacto. Hoje me orgulho quando chego em alguma cidade pelo Brasil, Rio Grande do Sul, interior de Minas, Bahia, em muitos lugares, sempre encontro algum poeta que interpreta de cór este poema, o que sempre me emociona. Nesta noite em Ipanema aconteceram duas coisas importantes na minha vida, a estréia de Sexo em Moscou, e haver conhecido a Elisa Lucinda recém chegada de Vitória e que até hoje é uma grande amiga, uma pessoa que amo muito.

JS – E o cinema? Roteiro, atuação uma paixão por Macunaíma e tal... fale disso.

MM - Não quero falar desse filme do Macunaima, deu muita confusão, nunca recebi a grana pelo meu trabalho,só ínfima parte do combinado, ou seja, levei um beiço. Não guardo mágoas, mas não quero falar sobre o filme. Mas quero deixar claro que não era o Macunaíma do Joaquim Pedro, pras pessoas não confundirem. Fiz alguns filmes e novelas, sim, de vez em quando faço. , mas prefiro falar sobre o livro que lancei agora,

Com Carla Marins, Gabriel o Pensador e Claufe Rodrigues, em
Brasília, nosso poeta mais perto do poder...
JS – E Seu novo livro, fale dele.
MM - Em maio deste ano (2011) no Ceará e dia 17 de junho aqui no Rio, lancei meu livro Poemas do Amor Eterno. É um inventário de afetos, fala de amor de uma forma escancarada, sem falsos pudores, sem medo de ir até as raízes, mas sem pieguices, com classe, modéstia à parte. Recebi patrocínio de um banco do Ceará, a  Oboé Financeira, leia-se Newton Freitas, sem dúvida o grande incentivador  das artes no Ceará, me arrisco a dizer até mesmo que um dos maiores incentivadores das artes no Brasil. Sou suspeito pra falar, mas digo que o  livro está lindo, deixei apenas numa livraria, a Argumento Leblon, de minha amiga Laurinha Gasparian. Este livro é minha libertação do julgo e exploração das editoras e também das livrarias, que cobram quarenta por cento. Estou vendendo no corpo a corpo, fazendo shows, e pela internet. Quem quiser, contate manomelo45@gmail.com, que faço chegar até ao leitor, cobrando extra apenas as despesas postais. E também quem estiver a fim, estou com um show pronto, Mano a Mano com Mano Melo, É uma stand up poetry, assim como os cômicos estão ativos na stand up comedy. Um microfone com pedestal e pronto, sem nenhum aparato cênico, só a verdade do poeta e sua empatia com o público. Estou aberto a qualquer público,  em qualquer cidade do Brasil ou do mundo.

JS –  Hoje tem os livros, os recitais e as viagens né? Você tem alguma queixa a fazer? Acha que encontrou o valor que merece?

MM - Não tenho nada pra me queixar. É difícil ser um profissional da poesia, porque não é uma profissão reconhecida. Eu e alguns gatos pingados somos os pioneiros. Que as próximas gerações aproveitem esta área desbravada, e quando isto acontecer, terá valido a pena, pois “tudo vale a pena se a alma é CINEMA”.

LIVROS, ETC...
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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Bárbara de Castro - entrevista exclusiva.

Foram alguns poucos momentos em que eu e Bárbara de Castro (ou Bárbara Tracajá, Bárbara do Amapá, Bárbara Vento... tantos nomes viscerais) nos cruzamos pelo cotidiano artístico do Rio de Janeiro, mas desses encontros permaneceram a troca de afeto e respeito. Com o tempo fui percebendo estar diante de uma narradora. Uma atriz que sabe lidar com as nuances dos silêncios e sons das palavras. Segue aqui este bate papo com ela.

Bárbara de Castro                         
Atriz, diretora, produtora cultural, arte educadora,  fundadora do grupo musical Paideguará. No teatro, participou da Semana Cultural em Caiena, Guiana Francesa.  Cursou a Escola de Teatro Martins Pena e o Instituto Tá Na Rua, sob direção de Amir Haddad, no Rio de Janeiro. Atuou e participou da criação do roteiro do espetáculo Dar Não Dói, O Que Dói É Resistir, apresentado nas Lonas Culturais do Rio de Janeiro, no Circo Voador e no Largo da Carioca. Atuou nos espetáculos: O Castiçal – Giordanno Bruno - Teatro Carlos Gomes (RJ). No cinema atuou em Cleópatra, longa de Julio Bressane; República Tiradentes, de Zózimo Bulbul;  Ou ficar a Pátria Livre, de Silvio Tendler; Operação Morengueira, de Godô Quincas e Chico Serra; dirigiu Pistoleira da Liberdade, lançado no Femina 2011, no Cine Odeon. Recentemente, recebeu o prêmio Interações estéticas da Funarte com o projeto Diário Tucujú, em que coordenou oficinas de teatro e vídeo performances no MIS/AP. 


Concentração xamânica no universo da Performance!
Jiddu Saldanha – Que diferenças básicas culturais você percebe que existe entre os brasileiros do sudeste e os da Amazônia? Como foi pra você se adaptar a essas diferenças?
Bárbara Castro - O norte é quente! As pessoas sãos quentes, a maneira de vestir, falar, comer,é toda uma mistura de muitos lugares. A Amazônia apresenta um quadro de esperança e teme a muitas batalhas políticas! O sudeste porém tem suas peculiaridades e suas belezas entranhadas na história. Cheguei no Rio em pleno carnaval e senti um choque de realidade, afinal nunca tinha visto o carnaval da "globeleza" tão de perto.
Na região norte o povo assiste Tv assim como assiste a própia vida!
Existia em mim um pouco desse deslumbre nortista, em que tudo que se ver nas telas é o real, esse deslumbre foi sendo quebrado a cada dia. Conheci o grupo Tá na Rua quando tinha apenas uns 15 anos e ai logo logo percebi do q se tratava a verdadeira realidade, do povo, do país, das questões sociais e culturais...isso me interessou! Pude participar também de algumas novelas, mini series, e filmes através do grupo. Contribuindo e me distanciando cada vez mais da ilusória dinâmica da Tv para uma possível e nova arte através do cinema e do teatro. Nada me trazia tanto prazer quanto o contato nas ruas com  trabalhadores das artes e de outros ofícios...desenvolvendo oficinas em lonas culturais, escolas públicas, teatros e praças. isso tudo fez com que eu pudesse vivenciar e assistir essas diferenças de culturas tão próximas e tão distantes ao mesmo tempo.

JS – Você considera que as pessoas nascem artistas ou se tornam? No teu caso, o que é mais provável?
BC - Todas as pessoas  nascem artistas, algumas reconhecem antes!
Nasci em Altamira no Pará e aos 10 anos de idade fui com minha família  morar em Macapá, no Amapá.  Lá estudei e conheci a arte de fazer teatro desde de muito pequena já havia sido tocada pelo circo e pela música, vindo de família nordestina sempre de olhos e ouvidos abertos a cancioneiros e cantigas populares. Meu pai seu Chico Rocha  Através da sua jornada de trabalhador brasileiro autônomo e artista, sempre incentivou a arte  a seus quatro filhos .Eu aprendiz dele e dos mestres que a mim se apresentavam pude observar que a arte num país como o Brasil é algo intrínseco, está relacionado ao nosso "Macunaimismo" a nossa preguiça é alegre e nessa alegria há muita música e improviso. Nesse país ser artista é algo independente das nossas escolhas!


No palco.
JS – Fale um pouco da tua experiência como atriz, diretora e narradora como foi que você juntou essas formas artísticas?
BC - "Melhor do que ser atriz é ser humano" Tive uma longa caminhada pra descobrir essa frase. Achava que tinha algo no artista de especial, e tem, mais é algo tão igualitário que não depende somente dele. Vai muito além dos personagens e personas...
Depois de encenar, criar e desenvolver-me como atriz fui em busca da raiz. Essa raiz mostrou-me novos rumos de pensar a arte. Assim tive a oportunidade de conhecer no interior da Bahia os Griôs e contadores de historia, que já havia conhecido no Amapá através dos mestres do Marabaixo , uma verdadeira universidade do saber oral. Essa nova fase  expandiu o poder de comunicação e as potencialidades da arte em mim. A partir daí tive mais autonomia de poder cantar os poemas que escrevia e as músicas do norte. Criando assim o grupo musical Paideguará composto por artistas  nortistas  que através da musicalidade amazônica puderam expandir seus trabalhos e realizar uma interação verdadeiramente  brasileira. Pude juntar o velho Griô ao novo olhar através da música que é a grande linha de todas as artes!

JS – Como você vê o Brasil hoje em relação a quando você começou a viajar, as coisas mudaram pra melhor? Você sente que tivemos mudanças na vida artístico-cultural?
BC - As mudanças são grandes, o Brasil deixou de ser o país do futuro pra perceber que é o próprio presente terrestre. Acredito que de uns 10 anos prá cá o Brasil era um anão que se levantou. Era um país subdesenvolvido, que acordou. Artisticamente temos novos caminhos.
Os pontos de cultura são meios de interligar esses artistas e essas redes sociais, a lei Griô nacional tbm é uma esperança. Se estivermos mais atentos para essas novas caminhadas das artes podemos nos organizar melhor e deixar de egoísmo.
Atualmente sinto que cada um tem seu projeto debaixo do braço e corre atrás do edital, e tem que conhecer alguém influente ou algum diretor que assine seus trabalhos. Por que não nós mesmos ? pq ainda estamos no cabresto? Essa mudança não depende somente dos artistas, mas do governo. Isso infelizmente ainda acontece, assim como paralelamente tbm acontecem bons festivais, bons encontros e grupos que se organizam e de alguma forma gradualmente ajudam romper artisticamente com o poder e suas falcatruas. As vezes é mais teatral a busca da grana do que da própria arte.


Cinema: Cangaceira Pistoleira.
JS –  Você acha que o brasileiro do sul e do sudeste tem informações claras do que acontece, de fato, por lá? Essas informações não são distorcidas? Como você vive esta realidade no seu coração?
BC - Quando cheguei no Rio de Janeiro me perguntaram:
- Você é da Bahia?
- Não! eu sou do Pará.
- AH! Sabia que era por alí por perto!
Percebi que realmente  muitas pessoas não tem consciência de tão imenso que é o nosso país e a sua diversidade cultural chega a ser  muitas vezes mágica. Só pude enxergar a Amazônia de outro prisma quando saí dela. o Brasil são vários países. Pode-se encontrar cidades ao lado que tem uma vegetação, um modo de se alimentar de falar de andar de abraçar de dançar completamente diferente um do outro. Nós não temos esse olhar aberto pra percebermos  os valores que temos, as potencialidades encontradas em nossos riquezas naturais são primordiais ao planeta, e principalmente pro desenvolvimento do Brasil e de nós brasileiros que aqui estamos. Um estado como o Pará  que é um pulmão  no meio da Amazônia,  tanta  energia eólica e solar, e cada vez mais são  hidréletricas que se espalham desviando rios e o destino de etnias nessa região.

JS – Quem são os artistas que te inspiraram e que você troca no sentido de ampliar e intercambiar o teu saber pessoal?
BC - Gosto dos Cineastas surreais,  dos atores com encanto cênico, dos diretores generosos, dos poetas sombrios, dos professores arteiros. Os que mais me inspiram são aqueles que mostram um pouco de dentro, do mundo do artista para  o universo, sua arte é universal, aqueles que lutam como operários não somente como artistas. Cantam não somente para as gravadoras, programas, rádios ou shows, mas cantam para as estrelas, gosto dos conectados, aqueles que estão a beira de um novo verso na simples contemplação da noite. A Inspiração é a chama da vida, sem ela a arte se repete! E a vida morre!
Cada vez mais o intercambio da arte popular com os novos artistas vem trazendo a tona um olhar ancestral, a ciranda,o religare. Durante um bom tempo eu achei que os atores não precisavam mais dos diretores, que a cada dia ficavam mais velhos e repetitivos.
Tive a oportunidade de trabalhar com alguns grupos jovens de teatro que dependiam não somente da direção mas da harmonia dos atores e seus egos livres na criação, realmente não me senti bem! Entrava e saía desses grupos assim como uma aluna que não se adapta a escola particular. Me sentia velha! Sentia uma enorme saudade dos dinossauros do teatro, dos mestres, dos anciões , dos coroas...enfim da sabedoria vivida, do ego lapidado pelo tempo. E agora me encontro nessa busca quase espiritual da arte, voltei a assistir o Zé Celso, Amir Haddad e até Boal tive a oportunidade de conhecer e aprender bastante, interagindo meu saber pessoal ao do mundo inteiro através da prática e da oralidade desses mestres.

JS – O que você diria para os jovens que estão iniciando uma vida artística hoje? Que sugestões de repertório, etc...
BC - "Te Liberta" é a frase que digo a todos os jovens de todas as idades...
Existe no mundo de hoje muitos "jovens velhos" que se sentem os donos da verdade, acham q pintar a cara ou tirar a roupa já é uma grande performance, usar objetos cênicos de época, falar outras línguas, apagar a luz, comer coisas estranhas em cena , sofrer, se debater, agredir, se melecar,intrigar,sentir dor,chocar, enfim tudo! menos interagir! Estes estão todos equivocados!
Essa pseudo nova arte está matando o ato de Atuar ... A arte é ampla, mas nela cabe a leveza da ligação, a sagrada ligação do circo místico, etéreo e uno. Já vi muitos jovens dizendo:  "ah o público não precisa entender"!
Aquilo me dava uma aflição!
Como se o público fosse uma cobaia do ego do ator que não dá o devido valor a grande ciranda dessa missão artística. Mal sabem eles que o público sabe e ver sempre mais do que o próprio ator, que nada mais é do que um místico, um doutor das almas.

JS – Quem você gosta de ler, o que você lê? O que você recomenda para leituras?
BC - Gosto muito dos poetas! Drummond, Bandeira e Gullar E delas ... Adélia Prado, Clarisse Lispector, Cecília Meirelles e Florbella Espanca. Do mais curto ler bastante: Berthold Brecht, Jairo ferreira, Abdias do Nascimento, Josué de Castro, Eduardo Galeano,Gabriel García Marquez, Jorge Amado,Graciliano Ramos, Oswald Andrade, Carlos Castaneda.
Gosto muito do poder de síntese das charges.
Minha leitura é um pouco solta nas coisas que vou sentindo e vivendo. As vezes leio a bíblia e acho um pouco machista aí páro, depois retomo novamente. Deus sempre me atraiu! Descobri o mundo do Atlantes, fiquei fascinada! Também ganhei um livro muito bom, Tagore traduzindo o poeta Kabir, adorei! Atualmente estou numa onda das Ciências Sociais, história, geografia, astronomia e física. Descobri que não sabia nada do que eu achava que sabia. Meu mundo caiu e eu gostei! Pelo menos quando caiu eu tinha um livro nas mãos.
"Ler é a melhor maneira de escrever"

JS – Quem é Bárbara Castro por Bárbara Castro?
BC - Depois de  assistir pela terceira vez o espetáculo "Os Sertões de Euclides da Cunha", através do Grupo Oficina ..recebi este poema! ( com todo respeito ao grupo e ao Zé)…

EVÓ AN?
Olhei para Dionísio
e disse ...Precisa tudo isso? Acalme-se
Naquele momento concordava eu com Penteu.
Jamais me imaginei cansada dele...
Mas na real os atores gastam seu Deus...
Agora há um Deus
exausto de ser chamado em vão
Em nome de um vinho barato
E de orgias que contemplam flashs e egos...
Quero eu o bonde das parteiras...
O exército da jurema...
A macumba carioca da gema Bahia
E digo não aos balangandãs contemporâneos cheios
de petrobrás quando descem as cortinas...
Que venham os novos...que nasçam gregos ...ou paraíbas
mas do útero virgem...
Limpe meu pensamento!
E Perdão senhor Deus do vinho
...Eu me retiro...
antes que me apunhale com seu bastão...
Bastão ...a muito tempo ...sagrado...
Hoje...imaginado na superfície
de homens comuns que juram serem DEUSES
por estarem microfonados...

(Bárbara Castro) 


Para navegar no blog de Bárbara de Castro - Clique A Q U I 
Quer ver o Port-fólio da atriz? - Clique A Q U I 

Grupo Paidéguará...


Hoje é Dia de Maria.



domingo, 12 de junho de 2011

Ana Luísa Lacombe - Entrevista exclusiva.

Sou fã de carteirinha da Ana, todos os eventos que coincide de estarmos juntos, sempre dou um jeito de assisti-la. Ela domina técnicas impressionantes de narração e deixa o público extasiado. Seu trabalho é meticuloso e feito nos detalhes. É um prazer recebê-la no meu cantinho virtual.

Conheça seu trabalho:


Foto: Flavio Moraes

Ana Luísa Lacombe é atriz desde 1980. Há nove anos vem se interessando e pesquisando o trabalho de narração de histórias associando-o ao teatro. Ganhou vários prêmios com estes trabalhos: Prêmio APCA de Melhor atriz 2003 com “Fábulas de Esopo”, além de três indicações para o Prêmio Coca-cola (melhor texto, melhor atriz e melhor espetáculo);  Prêmio APCA de Melhor Atriz 2006 e também  Prêmio Femsa Coca-cola de Melhor atriz com “Lendas da Natureza” e ficou entre os três finalistas neste mesmo prêmio como Melhor espetáculo. Seu último espetáculo “O Conto do Reino Distante” foi ganhador do Edital de Montagem Inédita do PAC 2007 da Secretaria de Estado da Cultura e do Prêmio APCA de Melhor Atriz 2008, além ser indicado para o Prêmio Femsa Coca-cola para Melhor texto e melhor Atriz . Em 2010 O projeto Trilogia Faz e Conta comemorando 30 anos de carreira da atriz colocou em temporada seus três espetáculos e um ciclo de palestras oferecido para várias instituições de São Paulo capital e interior. É curadora do projeto “Sipurim – Hora da História” do Centro da Cultura Judaica. Dona da Casa do Faz e Conta em São Paulo, espaço destinado a cursos e apresentações de narração de histórias. É uma das fundadoras do Centro de Reflexão do Teatro para Infância que promove encontros e eventos para refletir sobre esta arte.
***

Foto: Flavio Moraes
Jiddu Saldanha – Como foi que você começou a se interessar pela arte de contar histórias?
Ana Luiza Lacombe - Vendo uma amiga minha bailarina e atriz contando, a Leila Garcia. Era tão encantador que fiquei com aquela idéia na cabeça. Isso foi 1994. Abri uma pastinha sobre este assunto no meu computador e já dei o nome de “Faz e Conta”. Eu tinha vontade de juntar minhas habilidades de aderecista, artista plástica, atriz com a arte de contar histórias.
Eu estava cansada de trabalhar em grupos de teatro e queria experimentar algo mais autoral. Queria escolher os temas sobre os quais desejava falar. Num grupo temos que chegar a um consenso e nem sempre o espetáculo escolhido para ser montado refletia o meu desejo. Queria ser dona do meu discurso. Mesmo o texto não sendo meu, quando eu o estudo eu me aproprio dele. Ele passa a ser meu.
Mas isso só começou a acontecer em 2002. Entre o desejo e a realização passaram-se 8 anos!

JS – Quando você escolhe a história que vai contar, fica envolvida demais ou se distancia para lidar melhor com o tema?
ALL - Primeiro me envolvo com a história, preciso adorar a história e me emocionar com ela, rir com ela, torcer com ela. Mas na hora do estudo técnico há que se ter um distanciamento.
Sou bem virginiana no meu modo de trabalhar. Metódica e estudiosa. Leio o texto várias vezes em voz alta para perceber sua musicalidade. Depois coloco o texto em arquivo de Word e vou trabalhando um pouco na frente do computador, mexendo nele, moldando-o à minha voz. Vou escrevendo e lendo em voz alta para sentir a melodia. Quando chego num resultado satisfatório começo a fazer o trabalho de estudo mesmo, divisão de cenas, curva climática, etc. Quando termino isso, já estou bem dentro desta história. Aí começo a falar sem olhar para o texto, tentando soltar a língua. E aí é repetir, repetir, repetir...

JS - Todo contador de história sempre tem histórias pra contar sobre sua experiência de campo, gostaria que você relatasse alguns momentos marcantes da sua carreira.
ALL - São muitos. Contar histórias propicia situações maravilhosas e emocionantes.
Meu primeiro momento solo foi marcante. Logo que comecei a contar, me sentir sozinha na cena... Sempre fiz teatro de grupo e trabalhei em equipe. Sentir que a bola estava exclusivamente na minha mão era, ao mesmo tempo, temerário e desafiador. Manter todos os olhares interessados em você é difícil... Mas tudo se aprende nesta vida. Hoje estou bem confortável neste lugar.
Trabalhei durante dois anos contando historias em hospitais e um ano na AACD. Essas duas experiências foram lindas e cheias de momentos inesquecíveis.
No hospital as primeiras sensações foram de relativizar todos os problemas da minha vida. Perceber a força das pessoas que tinham que lidar com situações limite. A escolha de repertório tinha que passar por muitos filtros. Mas crianças são crianças em todo lugar e, mesmo debilitadas, elas sorriam e se divertiam e nós esquecíamos que estávamos ali. Histórias de lobo no hospital eram uma coisa incrível. As crianças ficavam numa excitação louca. O medo do lobo parece que resolvia todos os medos inexplicáveis que eles sentiam ali. Quando contávamos essas histórias parecia que depois da excitação o ambiente ficava mais leve.
A AACD tive um trabalho muito gratificante. Eu ia toda semana e pude construir um processo com as crianças. No final eles inventavam histórias a partir de cartas com figuras que eles sorteavam. Mesmo os que não falavam contribuíam através de suas “bandejinhas” com figuras que eles usavam para se comunicar. Criaram histórias incríveis e eu fiquei muito feliz e orgulhosa com este trabalho.

JS – Desde o início da caminhada na arte de contar histórias, o que você acha que mudou em relação ao mercado de trabalho, há mais aceitação por parte do público hoje do que antes?
ALL - Acho que sempre houve aceitação, mas acho que hoje não preciso explicar tanto o que eu faço. Mas o fato do mercado ter se expandido muito fez surgir também os interessados em “cachê”, que não têm nenhuma pesquisa sobre a arte e fazem coisas bem questionáveis. Isso faz parte da vida. Qualquer coisa que começa a chamar atenção sempre atrai curiosos e oportunistas. O mercado acaba peneirando.

Foto: Flavio Moraes
JS – Você esteve na Espanha, que tipo de proximidade você viu entre os narradores de lá e os daqui?
ALL - Não consegui assistir contadores de histórias de lá... Infelizmente. Mas trouxe muitos livros. Trouxe histórias do Palácio de Alhambra e contos populares espanhóis. Vim com muita vontade de montar um repertório “caliente” cheio de leques e violões.

JS – Você sempre tocou um projeto fixo de narração de histórias em São Paulo, junto ao Centro da Cultura Judaica, como foi/está sendo esta experiência?
ALL - Estou lá há sete anos. Adoro este trabalho. Não sou judia e o fato de trabalhar no CCJ me obrigou a estudar a cultura judaica. Tornei-me uma apaixonada por esta cultura, suas histórias e seus autores. Lá desenvolvemos um projeto bem bacana, Sipurim – Hora da História, unindo a programação de narração de histórias com as exposições que estão em cartaz no espaço. Depois das apresentações oferecemos uma oficina para as crianças e às vezes uma visita monitorada à exposição.
No ano passado fizemos um projeto lindo sobre Portinari por conta da exposição de seus quadros produzidos a partir de uma viagem que ele fez a Israel. Contamos a infância, a vida adulta, a relação com o avô e terminamos num happening com poesia, musica e a produção de um painel feito por uma artista plástica com intervenções das crianças. Foi lindo!
Outra coisa maravilhosa deste trabalho foi poder estar perto e conhecer pessoalmente figuras inigualáveis como José Mindlin, Moacyr Scliar, Fanny Abramovich, Mirna Pisnky, Lia Zatz, Nelson Ascher, Betty Mindlin entre outros, por conta dos Cafés Literários que eu coordenava. Li contos desses autores ao lado deles e isso é um privilégio.

JS – Que tipo de sugestão você daria para os novos contadores de histórias que estão surgindo agora? Você tem uma oficina permanente, né? Fala pra nós como é este trabalho e o novo espaço que criaste?
ALL - Acho que quem está começando agora tem que assistir muita gente antes de se aventurar a sair contando. É bom entender o que é esta arte e encontrar a sua “pegada”. É um trabalho pessoal e cada um tem que encontrar o seu jeito. Dou oficinas em vários lugares, mas agora abri um espaço meu, a Casa do Faz e Conta aqui em São Paulo. Além de mim, mais 3 professores compõem minha programação de cursos: A Leila Garcia (aquela primeira contadora que vi), Kelly Orasi (com quem fiz meu primeiro curso de contar histórias) e Betinho Sodré (um dos primeiros músicos a me acompanhar como contadora). Pretendo que lá seja um espaço de reflexão sobre esta arte. Além de cursos teremos apresentações e encontros para troca de experiências. Estou bem animada com esta nova empreitada e cheia de planos para a Casa. Ela ficou linda! É pequena e acolhedora como uma casinha da floresta...

JS – Quem é Ana Luísa Lacombe por Ana Luísa Lacombe?
ALL - Sou uma trabalhadora incansável e apaixonada pelo que faz. Perfeccionista, exigente e delirante. Estou sempre com mil idéias e projetos, gosto de trocar experiências e reflexões com outros artistas. Gosto de me relacionar com diferentes grupos de teatro e contadores de histórias. Quando podemos trabalhar com os outros arejamos nosso próprio trabalho. A Yoga, a música, minhas plantas são minha âncora. Minha família está longe (estou aqui em Sampa e eles no Rio) mas tenho meus pais e minha avó sempre perto me apoiando e me inspirando. Adoro família, festas de família, ritos e memórias...

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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Sobre o Suicídio de Artistas! (Crônica)

Bárbara Morais, atriz e estudante

Chaplin, em sua biografia, conta dos artistas que começaram a se suicidar por volta de 1912. Artistas que ficaram desesperados quando perceberam que o surgimento do cinema fez nascer um conceito de mito, de fama, muito diferente do que estavam acostumados!

Tenho ouvido discursos semelhantes de vários colegas, alguns estão considerando a possibilidade do suicídio, por se julgarem inúteis e mal encaixados num mundo globalizado e rapido como é hoje em dia!
Há aqueles que estão migrando para outras profissões e passaram a acreditar que relamente não é possível viver de arte, principalmente nos tempos atuais, onde o conceito de mito e celebridade passou a exigir cada vez mais um apelo imediato e de total empatia com o público numa velocidade record.
A depressão, o medo, a angústia e a solidão tem sido uma constante na nossa profissão, sobretudo um sentimento de inutilidade e um certo vazio causado pela profunda falta de esperança. Há o medo de chegar à velhice sem qualquer cobertura do estado e/ou uma garantia de descanso depois de uma vida de trabalho.
Alguns sentem medo de perder seus companheiros ou companheiras por não conseguirem uma forma digna de prover o sustento e dar garantias para a família.
Na minha opinião, esses fantasmas sempre existiram na vida do artista. Se hoje vivemos uma pressão econômica maior, em tempos outros, era bem difícil lidar com o TABU da profissão. Hoje em dia o artista é depreciado e amado e é mais aceito na sociedade de consumo!
Não vejo o Suicídio como uma saída para ninguém, também acho que é saudável manter um tom otimista e trabalhar um pouco por dia para mudar a sua condição. É importante, no entanto, ter consciência de que o conceito de mito e poder hoje em dia é bem diferente da época do chaplin, mas as perguntas persistem:
Afinal, o que é ser, de fato, um bom artista?
O que é preciso para sentir-se feliz sendo artista?
                    
Jiddu Saldanha
03/06/2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Entrevista com José Bocca - Votorantim / SP

Conheci "Zé Bocca" No Simpósio Internacional de Contadores de HIstórias, onde nos encontramos praticamente todos os anos. Não são poucas as notícias da beleza e grandeza de seu trabalho. Um artista gregário e irmão, que batalha pela classe e está sempre presente com seu belo repertório.
Nesta entrevista vamos conhecer melhor sua filosofia de vida, de trabalho e sua visão sobre a arte de Contar Histórias.

Zé Bocca é ator, contador de histórias, coordenador do Núcleo de Contação da cidade paulista de Votorantim, percorreu diversas capitais brasileiras, entre elas Porto Alegre, Rio de Janeiro, Fortaleza, Belo Horizonte, Florianópolis, Recife, Salvador e S. Paulo.
Vencedor do Festival de Humor de Sorocaba, na categoria Causos e Mentiras, no ano de 2007. Coordenador e apresentador do projeto Violas, Causos e Crendices, em Votorantim.
É vice presidente do Instituto Conta Brasil, que se propõe a discutir questões relativas à narração oral, em todo território brasileiro.
Ministra oficinas e palestras sobre a arte de narrar histórias, junto a órgãos municipais, estaduais, federais, empresas privadas e ONGs
Em parceria com o Instituto Cultural Aletria de Belo Horizonte/MG, atua monitorando oficinas junto ao grupo Encantadores de Histórias, formado por recuperandos do sistema APAC (Associação de proteção e assistência ao condenado).


Jiddu Saldanha – Como você vê o panorama da contação de histórias no Brasil hoje. Ouve um crescimento e um amadurecimento da expressão destes artistas?

José Bocca - Muito positivo, se percebe cada vez mais pessoas interessadas em narração de histórias. Seja no sentido de praticar, ser contador, como na condição de oportunidades de trabalhos.
Hoje em dia já é possível sobreviver de contar histórias. E é claro e evidente que há um amadurecimento e respeito aos contadores de histórias no Brasil e já existem sinais de movimentos organizados, para se pensar a arte de contar histórias, e a condição do contador de histórias. Como o Instituto Conta Brasil (www.contabrsil.org), uma ONG formada por contadores de todo Brasil.

JS – Que avaliação você faz dos eventos que hoje acontecem no Brasil, em que eles estão contribuindo para melhorar o contato com a leitura e a memória?

JB - Felizmente cada vez mais no Brasil existem eventos que congregam narrativas e narradores, alguns com uma longa carreira. Podemos citar o Conto Sete em Ponto, em Belo Horizonte, que ocorre há mais de dez anos, recebendo os mais importantes nomes do país. Em São Paulo, acontece bienalmente o Boca do Céu, recebendo contadores do Brasil de outros países, mas o grande catalisador, aglutinador e motivador de todo o movimento existente hoje é, sem dúvidas, o Simpósio Internacional de Contadores de Histórias, que desde 2002 de forma ininterrupta ocorre no Rio de Janeiro, e em 2010, também em Ouro Preto, oferecendo de maneira extremamente rica, trocas de experiências e vivências nos mais diversos sotaques, línguas e linguagens. Mas, contudo, é importante destacar que a tarefa da oralidade, da preservação da memória, deve ser de todos: contadores, pais, educadores.

JS – Na tua percepção o que uma pessoa precisa ter para ser um contador de histórias?

JB - Antes de qualquer coisa, ser um bom ouvinte de histórias. Depois, existem elementos importantes que podem favorecer uma boa narrativa. Mas, na minha visão, o importante é jogar com a platéia, o olho no olho é fundamental. Agregado a isso, uma boa bagagem, vivencia, é o que Regina Machado, no seu livro Acordais: Fundamentos Teóricos-Poéticos da Arte de Contar Histórias (Editora DCL) – aliás, obra importante pra qualquer contador que se preze – chama de “repertório de informações” do contador. Não basta ter umas histórias memorizadas, é preciso estar ligado no contexto, antenado com o universo a sua volta.
E por fim, acho que o que define um bom contador de histórias é: aquele que consegue transformar em imagens, na cabeça do ouvinte, as palavras que saem da sua boca.
JS – Que tipo de repertório você recomenda para os narradores iniciantes?

JB - Acho delicada essa coisa de recomendar repertório, o importante é trabalhar com aquilo que se identifique, que se sinta confortável. Adoro repetir em minhas oficinas uma frase de Einstein, o físico: É 10% de inspiração e 90% de transpiração. Não basta o talento, há que se praticar.

JS – Fale um pouco dos momentos vividos na tua carreira, o que te marcou, que lembranças valem a pena citar nesta entrevista?

JB - Bem, eu comecei como ator, lá pelos idos de 1989, meio que por acaso, sem saber o que fazer da vida. Um dia, uns amigos que faziam teatro junto ao Sindicado dos Metalúrgicos de Sorocaba, foram pra rua pra “falar” poesias e por coincidência nos encontramos, me convidaram pra participar, mas nunca havia feito nada além de “teatrinho” de escola ou igreja.
Porém de tanto insistirem decidi falar duas poesias que conhecia de cor: Como dois e dois são quatro (Ferreira Goulart) e Língua, um canto falado (Caetano Veloso).
Quando estávamos comemorando em um boteco, um diretor de teatro da cidade, me disse, apontando o dedo e me olhando na cara: “Bocão, você foi picado pelo vírus, não vai sarar nunca mais”. Até hoje eu não sei se era uma benção ou uma praga; mas o fato é que ele estava certo.
Depois de anos como ator, comecei a contar histórias, mas com todo o ferramental que eu trazia do tetro, em especial o teatro de rua, que era minha escola. Contava com adereços, figurino, maquiagem...
Até que em 2002, participei do primeiro encontro de contadores, em Porto Alegre, dentro do Fórum Social Mundial, e percebi que a força do contar histórias, estava na palavra e hoje tenho, como contador, um trabalho mais “limpo” e centrado na palavra oral.
Pois, como disse certa vez, numa entrevista pra revista Bravo, José Saramago, escritor português: “A verdadeira palavra, é a palavra dita. Pois a palavra escrita é apenas uma coisinha morta, que está ali, a espera que a ressuscitem”

JS – O que você lê? O que você gosta de ouvir?

JB - Leio de tudo que cair na minha mão, desde literatura de cordel a tratado de física quântica, bula de remédio, rótulos de embalagens. É claro que tenho minhas leituras preferidas. Gosto muito de poesias, sendo meu poeta predileto Paulo Leminski, gosto muito do russo Maiokoviski. Na prosa, adoro o trabalho do Ruben Fonseca.
Também leio muita teoria sobre a arte de contar histórias.
Quanto a musica, sou muito eclético, ouço desde canções e populares até jazz, blues e afins. Ultimamente estou mergulhado no cancioneiro caipira do interior paulista, me deliciando com Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, Alvarenga e Ranchinho.

JS – Quem é Zé Bocca por Zé Bocca?

JB - Morador de Votorantim/SP, onde está enterrado meu umbigo.
Pisciano (do dia da mulher), e como bom peixe, morro sempre pela boca. Meus pecados são sempre por palavras, nunca por ato ou omissão.
É isso...



Principais eventos que participou como contador, nos últimos anos.

-          Feira do Livro Infantil de Fortaleza/ CE (2010)
-          Violas, Causos e Crendices – Votorantim/ SP ( 2003/ 04/ 05/ 06/ 07/08 /09)
-          Simpósio Internacional de Contadores de Histórias (2003/ 04/05/06 /07/08/0910)
-          Bienal do Livro de Fortaleza/ CE (2006)
-          Boca do Céu Encontro de Narradores e Narrativas – S. Paulo/ SP (2006/2008/2010)
-          Maratona de Histórias de Florianópolis/ SC (2005)
-          Festa do Livro e da Leitura de Aracati/ CE (2005)
-          Feira do Livro de Porto Alegre/ RS (2003/ 2004)
-          (Encontro Internacional de Contadores de Histórias 2003)


Conheça o Violas Causos e Crendices
evento coordenado por Zé Bocca


                  www.bocadehistorias.art.br
                 contato@bocadehistorias.art.br 
15 – 91289300 c/ Zé Bocca