OBRIGADO POR SUA HISTÓRIA

sábado, 8 de dezembro de 2012

Rumo a Macapá.

Narrar com Voz e Mímica, exercício e
busca pessoal.
A oficina “O Gesto na Narrativa Oral”, que teve sua estréia no “VI Simpósio Internacional de Contadores de Histórias”, já tem 5 anos de estrada. Viajando pelo Brasil, levando reflexões sobre a gestualidade do contador de histórias, tem como objetivo principal, acrescentar a mímica como parte do “discurso cênico do narrador”.

***
Dessa vez, estarei ministrando essa oficina-vivência, como gosto de chamar, nas dependências da UEAP – Universidade Estadual do Amapá em Macapá, capital, e lá com certeza, irei usufruir dos ares amazônicos além de levar minha percepção de trabalho para jovens e adultos que curtem a arte de narrar.
Desde que saí de uma oficina do grupo Morandubetá, em 1993, ministrada na UERJ e que tive o prazer de ser aluno de nomes como: Lúcia Fidalgo, Celso Sisto, Eliana Yunes e Benita Prieto,  juntei a arte da mímica, herança do meu querido mestre Everton Ferre, com a arte da narração oral e de lá pra cá, foi um casamento perfeito.  Somado a isso a experiência com meus 30 anos de teatro, me sinto num momento de grande encontro entre a técnica, a experiência e a “pretensa” sabedoria. 
Encontrar jovens que queiram mergulhar na arte da narração oral é um exercício de múltiplas possibilidades entre essa energias agregadas ao longo de minha história pessoal. Galera de Macapá, to chegando!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Entrevista com Renata Andrade - 2012


Tive o prazer de conhecer  Renata Andrade, e venho acompanhando um pouco de seus passos artísticos. Uma pessoa de fala leve e que é um turbilhão por dentro. Solidária e curiosa, tem aquele jeitinho de “criança louca para botar o dedo no bolo de chocolate da aniversariante”... Sempre que a encontro, rimos muito e falamos com gosto, da arte de narrar. Então, decidi, entrevistá-la para que vocês a conheçam melhor.


Cenas de "Cordel do Amor sem Fim", montagem do Teatro Trupiniquim, 2010 - foto de Alexandra Arakawa.
Renata Andrade é atriz, contadora de histórias e educadora, nascida interior do Rio de Janeiro, Volta Redonda, onde teve seus primeiros contatos com o teatro. Em 2002 chegou ao Rio e atuou em dois espetáculos do Gene Insanno Cia Teatral; em um deles foi apresentada à linguagem da Contação de Histórias.
Entre 2003 e 2007 graduou-se em letras na UFRJ, fez técnico de atores na Martins Pena e cursou especialização em latim na UERJ. Na Martins, ganhou um papel que a marcou, a Mãe em Bodas de Sangre, dirigida por Monica Lazar, e conheceu artistas com os quais tem trabalhado até hoje. Na UFRJ, contou histórias no IPPMG junto à pesquisa sobre Literatura Infantil. Em 2005, começou a narrar histórias no Sesc-Bm e de lá para outros lugares.
Entre 2009 e 2011, foi Contadora de Histórias no PCP-Maré. Em meados de 2009, começou a lecionar. Paralelamente a estes dois trabalhos, dirigiu a produção de A última Flor, no Teatro Gláucio Gil. Após o espetáculo adentrou o Teatro Trupiniquim, a convite de KarolSchittini.
Neste coletivo de artistas, atuou em Cordel do Amor sem Fim; Rosa dos Ventos; Pierrot, Arlequim e Colombina, A Boca da Noite e MBOIOBM (prática de sua pesquisa artística pessoal).


Na Boca da Noite - 2012 - Foto de Wallace Feitosa.
Jiddu Saldanha – Fale um pouco do que te motiva a dedicar-se à arte de narrar histórias.
Renata Andrade - Contar histórias é uma oportunidade de entrar em comunhão com as pessoas, falamos de coração a coração sem barreiras. Eu me abro pra elas. E regozijo-me quando elas se abrem para mim.E tudo que vivemos ali é verdade.

Jiddu Saldanha – Como você escolhe uma história pra contar? Que tipo de estímulo te leva a optar por uma ou outra história?
Renata Andrade - Acontece quando vejo na história a possibilidade de colocar algo que me está encucando no momento.
O Pinto Suraeu escolhi por ele me fazia rir em sua fraqueza, mas também era um personagem audaz, pegou um desafio e foi. Adoro histórias de macaco, porque ele vai além no imaginar-fazer e também porque suas histórias possuem antagonistas recorrentes. Na medida que os conhecemos em uma história saberemos como eles agirão em várias, daí uma história puxa a outra.
Às vezes escolho porque a história me faz expressar um sentimento que está preso dentro de mim, para elaborar-me; outras vezes porque quero brincar com um ritmo. E um tema que me encanta. Mas dificilmente será porque alguém me pediu.

JS -Você está estudando a fundo o mito da Cobra Grande, fale um pouco sobre isso e porque escolheu este mito?
RA - Considero-me bem no início da estrada que quero descobrir, há muito a ver e quero contar pra vocês. Encanta-me que se trate de uma personagem de criação coletiva (pois se mantém viva através da tradição oral) e pode refletir parte da psicologia humana, portanto particular, ao mesmo tempo em que é um bom entretenimento, com atos de bravura, romance, inveja e encantamento.
A Cobra Grande está ligada aos mitos de criação do homem e do mundo tal qual o homem sabe, com dia e noite, vida e morte, sujeito carregado de bem (conhecido) e mal (desconhecido); isso pode até soar maniqueísta, embora não seja tão simples assim.Na língua tupiela já recebeu três nomes,Mboiguaçu (Cobra Grande), Mboiuna (Cobra Preta) eMboitata (Cobra de Fogo).  Ao unir os contos dessa figura recolhidos por todo o Brasil, comecei a traçar um perfil do personagem.
A história dessa cobra se assemelha às narrativas de outras partes do mundo. Na África, conta-se que embaixo da terra, em seu centro, há uma cobra que circula o tempo todo, atrás de seu próprio rabo, dando voltas no mesmo lugar. Enquanto esta cobra continuar circulando, a terra prospera. Quando ela parar, tudo que é vivo morre.
Como símbolo, a serpente é oposta e complementar ao homem, está diretamente ligada à parte que desconhecemos. Interessa-me metaforizar, através destas histórias, como a serpente habita um sujeito enquanto pulsão de vida eseus ritos de passagem - da escuridão à luz e vice-versa.
Como parte prática desta pesquisa, trabalho com mais um ator em A Boca da Noite e MBOIOBM, uma performance que criei motivada pela pergunta que desejo deixar como refletida ou sentida de alguma forma no público: Como esta serpente circula dentro de mim?

Mostra do saber popular 2012 foto de Ana Paula Silva
JS – Quais os narradores de história que você admira? Fale um pouco da experiência de tê-los assistido.
RA - Sou grata por ter amigos contadores de história que admiro. É interessante que cada narrador, bom narrador, conta sempre de um jeito muito próprio. Só ele conhece a história desse jeito.
Jiddu Saldanha, conhece? O cara conta história com o corpo e, nas apresentações que eu assisti, sua narrativa tinha uma estrutura quase pedagógica,um disseminador de conhecimento.Parecia que, ao sair dali, as crianças estavam prontas para recontarem a história que ouviram.
Bernardo Zurk conta com uma aparente ingenuidade cômica. A gente não acredita que ele vai fazer aquilo. O que parece simples, na verdade está carregado de técnica (depois ele me mostra). E funciona de tal forma, que quando ele repete a história te parece simples de novo.
A Solange Penna conta de umaforma muito divertida,careteira e musical e diz que não é contadora (lorota né Solange). A Silvia Ferraz, do Baú que Conta, é capaz de desenrolar o fio da história por muito tempo mesmo, de tal forma que você fica com ela por todo esse tempo.
Agora, uma que não é minha amiga(mas eu queria muito conhecer) é a Dona Zefa. Assisti suas contações em um vídeo que acompanha o livro “Corpo a Corpo” de Zeca Ligièro - Professor da Unirio e Diretor Teatral - e também pude ouvi-lo falar dessa figura. Dona Zefa é contadora de fato, parece até que nasceu assim. Desde menina, ela conta histórias incríveis inspiradas na bíblia e na sabedoria popular. E conta como se os personagens e o causos fossem acontecidos ainda agora, como se fosse a história de um vizinho nosso. Parece uma daquelas vozes saídas das histórias coletadas por Câmara Cascudo, Simões Lopes Neto e outros.
Assistir essas pessoas em histórias diversas faz a gente conhecer um pouco delas. E daí me dou conta que quem me ouve contar também sabe de mim. Essa troca é linda, não deve parar.

Renata aguarda o momento de entrar em cena para o seu espetáculo de narração atual "A Boca da Noite" 2012 foto de wallace feitosa.
JS – Faça sua lista de filmes preferidos.
RA - São muitos outros fui descobrindo, mas os queme vêm mais frequentemente são: O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet; Cenas de um Casamento, Gritos e Sussurros e Persona, de Bergman; O Carteiro e o Poeta (Mássimo e a melhor explicação do que é metáfora), de Michael Radford; Tudo sobre minha mãe, de Almodóvar;La Strada, de Fellini; Humberto D, de Vittorio de Sica; O Casamento de Maria Braun, de Fassbinder; O Sopro do Coração, de Louis Malle; Como água para chocolate, Alfonso Arau; e vai por aí...

JS – O que você recomenda para as pessoas que estão começando a lidar com a arte de narrar histórias?
RA - Ler, ouvir, ver, sentir o que vem de fora a partir do que vem de dentro. Que a sua história seja singular. E não feche uma história, tenha a delicadeza de deixar uns espaços nela. Ela sempre pode mudar, pois cada público que te ouvir se encarregará de fazer sua contribuição ou novos espaços; e porque o que é verdade para nós também muda com o tempo.Ninguém é. Estamos sendo.

JS – Você se dedica à educação e ao teatro, como é se equilibrar no universo da pedagogia e o universo da arte, pra você?
RA - É muito difícil, pois estes ofícios se desencontram no tempo-ritmo que exigem da nossa vida. Encontram-se, porém,na ludicidade e no potencial transformador da sociedade que têm.
Tem muito suor e rotina no trabalho do professor. Atualmente, estetrabalho requer uma carga horária em bloco e, por isso, tem que se criar pausas, pequenos descansos para não virar tijolo ou argamassa da educação. Nestas condições,meu desafioé tomar a preparação pontual como processo.
E a arte precisa estar comigo a todo momento, na verdade, eu é que preciso estar com ela, respirá-la. Minhas apresentações duram de 40 a 60 minutos e são preparadas por muito mais tempoque isso, às vezes, o envolvimento com uma história leva anos.Já as aulas costumam ser preparadas por ¼ do tempo utilizado para se manifestarem. Pergunto-me sempre como unir estes universos.
Ser bipolar ou desenvolver dupla personalidade não resolve. Tenho lidado com isso respirando as duas coisas, entendendo-as como uma só: o movimento de transformação lúdica do real, com roteiros diversos adequados a cada público, tema, situação.Mas isto também é projeto de pesquisa e prática contínuo.

JS – Quem é Renata Andrade por Renata Andrade?
RA - Renata não é.  Já digo que ela detesta que a caricaturem com um único adjetivo, dá logo um montão ou dê nenhum. Dramática, alegre, insegura, criativa, inquieta, metafórica, capaz, doce, direta. Até parece bailarina, mas não é, não tem cara de atriz, nem de professora, menina, mulher, tia, amiga, filha. Prepotente propensa comunista que ganha o capital de cada dia, crê que nenhum desejo foi, nem é grande demais (pra ninguém no mundo). É a vida que diz isso enquanto se respira. Mas os outros causam um puta medo. Será que concordam?
Mas já que é Renata por Renata, digo que assumi a etimologia do nome, com o compromisso de renascer quando sinto que morri. Parece lógico. Que bom. Aceitar a morte para receber a vida. Os contos de fada nos ensinam que essa é uma forma de ouvir a intuição. E, sim, eu sou laranja e um pouco de lilás também.

Veja alguns vídeos com a participação de Renata Andrade.



Cordel do Amor sem Fim - Teatro Trupiniquim




terça-feira, 29 de maio de 2012

Repaginando o existir, com FOTOPOEMAS

Atitude legítima e contemporânea escrever o poema e dar a ele um rosto imagético, esta é a proposta deste tópico onde registro com imagens e palavras alguns momentos de uma vida de viajante dos sonhos! 

Poema que virou música do músico transcultural Nicolás Farruggia!

Parceria com o querido fotógrafo mexicano Raul Sibaja.

Fotopoema criado a partir de uma foto feita na Feira do Livro de Bento Gonçalves, RS - 2012
Haiga criado a partir de uma pintura de Mayara d'Paula, artista visual de Rio das Ostras - RJ
Tanka, criado a partir de uma foto-cor de Évelin Martins, artista gráfica e desenhista de Búzios - RJ

Acredita Brasil!


José Facury cantou a pedra do reino de Suassuna e nós, não podíamos deixar de compartilhar essa riqueza patrimonial cultural do Brasil. Na lista do Prêmio Nobel de Literatura, 2012, acho que dessa vez o BRASIL leva. Sim, somos a “Bola da Vez”, mas Suassuna sempre o foi.


Com sua obra contundente, profunda e capaz de abarcar um Brasil pensado a partir de suas entranhas, temos neste mestre da literatura uma de nossas grandes sínteses existenciais. Vamos seguir adiante com este grande mestre e fazer valer nossa vontade.
A língua portuguesa agradece.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

PÁGINA DE CRÔNICAS DE JIDDU SALDANHA.





Pessoas de Caem do Céu

Passei boa parte do dia tentando amarrar cordas de náilon num gigantesco pedaço de plástico até juntar as quatro partes do mesmo e amarrar num cinto de pneu em forma de “X”. Tudo no meu tórax. Fiz alguns ensaios correndo pra lá e pra cá, medi o pé direito da casa como se fosse um especialista e concluí que a altura era boa para o primeiro salto do mais jovem pára-quedista da historia: Eu.
30 anos antes de meu grande salto, em 1944, mais precisamente no dia 05 de junho, os aliados jogaram sobre a cabeça dos alemães uma força de elite com 18 mil pára-quedistas que caíram silenciosamente do céu em diversas localidades da Normandia, França, com o objetivo de atacar os inimigos de dentro de seu próprio território, desarticulando-os para que, no dia 06, acontecesse o desembarque nas praias com soldados vindos da Grã Bretanha pelo mar. Eles chegavam em embarcações de todo tipo. Este dia ficou conhecido na história como o dia “D”.
Em 1974, meu pai estava muito preocupado e com um problemão pra resolver:
- Desce daí meu filho.
Em cima do telhado eu via o céu azul, sentia o vento e mirava o matagal à minha frente. Seu Hilário argumentava.
- A altitude é baixa, não vai abrir. Você vai quebrar a perna!
- Não vou não, pai, eu já treinei.
- Treinou errado, meu filho. Os pára-quedistas treinam em lugares altos, lá no Rio de Janeiro que é cheio de montanhas intercaladas de campos abertos e vastos e um vento quentinho, do jeito que o pára-quedas gosta. Você já viu alguma montanha em Curitiba? E o vento aqui é gelado, filho.
- Pai, você não está entendendo, eu sou o menor pára-quedista do Brasil, o primeiro com menos de 10 anos de idade, isto é um acontecimento histórico – embora não tenha dito isso desta forma, ficou clara a intenção.
- É, meu filho, com certeza você é um pioneiro, mas desce daí que te ensino a fazer um pára-quedas de brinquedo, igual aos que eu brincava quando tinha a tua idade.
- É mesmo?
Desci imediatamente apoiando-me pelas vigas do barraco.
Em 1962, o pára-quedista russo Eugene Andreev bateu todos os recordes de altura num salto com mais de 25 mil metros e que até hoje nunca foi superado. A brigada pára-quedista brasileira foi para o Egito em 1957 e ficou lá por quase 10 anos apoiando as nações unidas a manter a “paz” na região de Suez. Meu pai me ensinou a fazer para quedas com plástico e uma pedrinha amarrada embaixo, na base onde se encontravam os oito fios de barbante.
O pára-quedas foi o meu melhor brinquedo da infância.
Dizem que os filhos e filhas dos pára-quedistas nascem sorrindo por causa do friozinho na barriga que suas mães sentem a cada manhã de despedida, pois sabem que, naquele dia, alguém literalmente vai cair do céu, realizando  poderosos saltos, mas desta vez, da altura certa e com total segurança, embora, num rigoroso treinamento militar, ou numa deliciosa brincadeira esportiva.
Eu nunca saltei de pára-quedas.
Mas meu pensamento voa quando vejo fotografias de pessoas que "caem" do céu.

Jiddu Saldanha
11.06.2011




Sobre o Suicídio de Artistas!

Chaplin, em sua biografia, conta dos artistas que começaram a se suicidar por volta de 1912. Artistas que ficaram desesperados quando perceberam que o surgimento do cinema fez nascer um conceito de mito, de fama, muito diferente do que estavam acostumados! Tenho ouvido discursos semelhantes de vários colegas, alguns estão considerando a possibilidade do suicídio, por se julgarem inúteis e mal encaixados num mundo globalizado e rápido, como é hoje em dia!
Há aqueles que estão migrando para outras profissões e passaram a acreditar que realmente não é possível viver de arte, principalmente nos tempos atuais, onde o conceito de mito e celebridade passou a exigir cada vez mais um apelo imediato e de total empatia com o público numa velocidade recorde.
A depressão, o medo, a angústia e a solidão tem sido uma constante na nossa profissão, sobretudo um sentimento de inutilidade e um certo vazio causado pela profunda falta de esperança. Há o medo de chegar à velhice sem qualquer cobertura do estado e/ou uma garantia de descanso depois de uma vida de trabalho. Alguns sentem medo de perder seus companheiros ou companheiras, por não conseguirem uma forma digna de prover o sustento e dar garantias para a família.
Esses fantasmas sempre existiram na vida do artista. Se hoje vivemos uma pressão econômica maior, em tempos outros, era bem difícil lidar com o TABU da profissão. Atualmente o artista é depreciado, amado e é mais aceito na sociedade de consumo! Não vejo o Suicídio como uma saída para ninguém embora respeite o conjunto de crenças filosóficas que justificam muito bem esta saída “honrosa” da vida dura e causticante desses dias que vivemos.
É saudável manter um tom otimista e trabalhar um pouco a cada dia para mudar  nossa condição mas é importante ter consciência de que o conceito de mito e poder, hoje em dia, é bem diferente da época do Chaplin ainda que as perguntas persistam:
Afinal, o que é ser, de fato, um bom artista?
O que é preciso para sentir-se feliz sendo artista?

Jiddu Saldanha
03/06/2011


Sobre Sonhos e Vaias.

Assistindo a um documentário sobre os festivais de música da antiga Record, famosos pelas vaias a artistas da MPB, pensei em minha humilde carreira... Sim, já fui vaiado, não poucas vezes! A Vaia é um componente importante numa carreira artística, nos dá a nítida noção de que não existe piedade quando nos expomos. O público não está ali para ser bom ou mau. Público é público e pronto!
Uma vez um colega de profissão me disse: “Imagina cara, a galera paga uma grana pra te assistir e, de repente, você derrapa no palco... tem mais é que ser vaiado mesmo. Se tem coisa que respeito é a vaia do público”! “Eu também” - respondi ao meu amigo- “mas que dói isso, dói”.
Receber um uuuuhhh coletivo não é tão simples assim, principalmente quando você vê seus amigos saindo de fininho do teatro, em sinal de respeito, só para não confrontar a tua solidão. Para lidar com esta “desgraça” cunhei a frase: “Artista não tem sucesso e nem fracasso, artista tem biografia”!
Esta frase me consolou muitas vezes e, cá com meus botões, ouvir o burburinho da platéia extasiada tirando fotografia nos corredores, te mandando ramalhete de flores no camarim com cartão e tudo, isso sim é uma boa biografia.
Dito isto, concluo que, viver, no dizer de Guimarães Rosa, “é muito perigoso”, e viver como artista pressupõe que a vaia está na perspectiva. Acho que as únicas pessoas que desfrutam, também, deste “privilégio existencial” são os políticos e os professores: Os primeiros porque ganham muito e não fazem “nada”, os últimos porque vieram ao mundo para expiar os pecados de toda uma cultura falida, em uma sociedade acorrentada por questões meramente relacionais.

Jiddu Saldanha
05/06/2011

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Entrevista com Tânia Arrabal.

Orgulhoso, Ravi Arrabal, filho, cresceu ouvindo a mãe
 contar histórias. 
Conheço Tânia Arrabal desde 1995 quando ela e Cesar Valentin se apresentaram numa homenagem ao inesquecível mímico Márcio Machado. Quase 10 anos depois quando vim morar em Cabo Frio passei a acompanhar a história desta atriz. Tânia; que nunca parou de fazer teatro um único ano sequer durante os últimos 25 anos; é também exímia narradora. Seu trabalho de teatralização de histórias prima pela qualidade visual, maquiagem perfeita e figurinos que poderiam ser uma verdadeira grife, além de uso de material de cena de primeira e tudo feito por ela.
Vamos conhecer um pouco mais desta artista Cabo-friense que tem orgulho de suas raízes e de sua história!

Jiddu Saldanha  – Como foi que você se aproximou da arte de Contar Histórias?
Tânia Arrabal - Na verdade tive uma infância regada por bons momentos de histórias contadas pela minha avó. Eu era sua companheira noturna onde dividíamos a cama. Na medida em que ela estendia o cortinado de filó e o prendia entre o colchão e o estrado, Ia me contando muitas histórias. Fico emocionada quando lembro dessas noites! E desse contar eu fui guardando detalhes de cenas e cores... Depois tive professoras bem especiais que também contavam muitas histórias. Aí vieram os filhos. À noite, ao pé da cama ou mesmo deitada ao lado eu tentava trocar de lugar com a minha avó. Agora é a minha vez de dizer “era uma vez”.

Com um imenso livro cenográfico, Tânia tira de suas páginas, histórias
que aquecem o coração de seu público!
JS – Que diferença você vê entre narrar histórias e o fazer teatral?
TA - Narrar requer uma boa dicção e um maior envolvimento para com a platéia. O narrador precisa ser cauteloso nesse envolvimento para que o ouvinte não se distraia. Ele tem o poder de fazer a criatividade ficar mais aguçada e o que se está contando tem que ser imaginado através do som e do tom da sua voz.
O fazer teatral, no caso de teatralização de histórias, ele de cara já oferece ao espectador as cores, as formas, tamanho da ambientação, personagens e por aí vai...

JS – Quais são as histórias que mais tocaram teu coração ao longo de sua vida?
TA - São muitas!!!! Hoje Rubem Alves está no topo. Amo de paixão “A menina e o pássaro encantado” e “A volta do pássaro encantado”.  Pode até ser pelo momento que a gente vai passando ao longo da vida...

A mais de 25 anos, Taninha, como é
conhecida pelos fãs em Cabo Frio,
nunca deixou de fazer teatro!
JS – Como você vê o desenvolvimento da arte de narrar, na cidade de Cabo Frio?
TA - Em Cabo Frio assim como em todo o lugar onde chega o “progresso” as pessoas vão se esquecendo das tradições. Mas temos ainda muita gente que faz questão de mantê-la viva, como é o caso de Meri Damaceno que como pesquisadora dessa oralidade, continua a contar os causos de figuras da cidade.
A arte de narrar como aglutinadora de grupos vem sendo vista com bons olhos e vendo a sua importância, alguns artistas na cidade seguem contribuindo de uma forma autônoma e descontraída. Alguns encontros marcados com essa finalidade já foram feitos e os resultados foram os melhores possíveis.
Penso que se dermos continuidade para que o fio da meada não se perca, teremos cerca de 10 bons narradores na Região.

JS – Quem são os artistas desta arte que você admira?
TA - Assisti a atriz Priscila Camargo uma vez aqui em Cabo Frio e achei o trabalho interessante. Acho que fica entre a teatralização e a narração...gostei.
Sou fã da Bia Bedran que une narração e  música.
A minha admiração verdadeira é por todos os artistas que fazem dessa arte a forma mais lúdica envolvendo todo o ser que os ouve e os vê.

JK – Quem é Tânia Arrabal por Tânia Arrabal?
TA – Nossa! Tânia Arrabal tem 42 horas diárias. Ela não para de forma alguma. Só sossega quando está com enxaqueca (risos).
Dinâmica e vive inventando o que fazer. Cria cenas e bonecos. Pinta, cola, borda e prega botão. Tudo ao mesmo tempo. Tem ganância de tempo!
Sensível pra caramba, muito embora tente esconder essa sensibilidade toda. E com tantas personagens que conhece e habitam o seu eu, ela transforma-se em menina de tranças e brinca de boneca; quando a mulher séria aparece, se esconde e se esquece de tudo. Guarda dentro do baú de sua existência  todas as experiências e  dorme pra acordar no dia seguinte e começar tudo de novo.
Ela não é mole não! Muitas vezes me põe louca.