OBRIGADO POR SUA HISTÓRIA

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

A Invasão da Poesia.

Num momento de profunda crise econômica e política, Cabo Frio sofre a invasão da poesia. Poetas são assim, seres que aparecem nos momentos em que a sociedade os chama através de uma complexa rede telepática. Clube do Poeta, Degustando Arte, Sarau da Tribal, Flores Literárias, Varal do Beijo, Festival de Inverno Literário, TCCEXTA e o surgimento do selo Camarada García,  pavimentam uma nova ERA DA POESIA para Cabo Frio.

Cintra levando meu livro, figura onipresente em Cabo Frio.
Não só a poesia, mas também a prosa, eu diria, a literatura sendo revitalizada, com novos nomes surgindo no cenário da poesia da Região dos Lagos. Um desses nomes é, sem dúvida, André García, que resolveu "cair dentro", trazendo uma avalanche de novidades. Além de uma poesia aderente, profunda e contestadora, é, também, uma ação cotidiana que faz levantar a poeira do lado de cá. Honrando uma tradição que traz Paulo da Silveira como ícone e a figura errante de Miguel Lima, construindo um cenário que já vinha se fortalecendo, principalmente com a injeção de energia proposta pelo primeiro FESTIVAL DE INVERNO LITERÁRIO DE CABO FRIO, um evento magnífico, que fez diversos poetas "saírem da toca", enquanto novos chegavam.
Espalhando arte e estetica desde 2014, o "Varal do Beijo", de Nathally Amariá,
evidencia uma tendência de que a poesia circula sutilmente no coração da
juventude de Cabo Frio.
Ainda em 2016, o Sarau da Tribal, amalgamou várias fontes criativas, num evento inesperado, mas que aconteceu de forma incrível, no espaço Usina 4, com casa lotada, trazendo como voz principal, n aquele dia, a figura da jovem poeta Beatriz Ebecken que invadiu a praia com sua poesia ácida, sensual e provocadora. Neste mesmo dia, jovens como Jean Monteiro, Nathally Amariá, Celso Guimarães e Dandara Melo, fizeram a poesia explodir, numa avalanche de palavras que ajudaram a criar um ambiente fluido e provocativo. Completamente arrebatado pela fúria dos jovens que ali se manifestavam, nem José Facury resistiu, subiu no palco e destilou sua narração de histórias, deixando o público feliz e participativo.
Outro nome que se faz presente em diversos saraus é o professor de física do IFF - Cabo Frio, Henrique Selani, que, com uma poesia cheia de referências históricas, evoca uma fala contundente e, trazendo os deuses do olimpo, novamente, através de verdadeiras orações bacantes impregnadas da mais sofisticada linguagem literária. Henrique vem bebendo na fonte da mais fina literatura muncial, descobrindo o melhor de sua arte poética, através de reflexões profundas em vertentes que tem em Miguel Gullander, sua mais forte influência.
No bojo dessa nova geração, aparece Nathally Amariá, que, com seu VARAL DO BEIJO, vai, de forma sutil, costurando energias produtivas e criativas, dentro de um universo poético que começa a explodir com grande força, neste fatídico e desastroso ano de 2016, um ano que explode crises mas que marca o renascimento da poesia Cabofriense. Nathally é também poeta e já esteve num grande evento de poesia, em 2014, o "Congresso Brasileiro de Poesia", tendo participado, inclusive, da antologia POETA MOSTRA SUA CARA, com seus haicais, junto com Ravi Arrabal e Kéren-Hapuk. Seu blog BEIJO QUE VIROU ARTE, virou referência para pessoas de sua idade, mas já aponta para uma literatura que vem surgindo com certo capricho estético.
Jaqueline Brun e Andrea Rezende, com o sarau Flores Literárias, revelam novos nomes da poesia local e consolidam a presença daqueles que já fazem poesia a mais tempo, como o querido Rodrigo Poeta, que traz uma reflexão forte e um mergulho no desafio do próprio fazer, reconstruindo olhares e entranhando-se cada vez mais como um observador atento ao fluxo existencial de Cabo Frio e Arraial do Cabo.
Sem sombra de dúvida, a jovem Lorena Brites com seu livro Acervo de Palavras, abriu caminhos a ombros, para uma geração que não quer se conformar, cria seu discurso e reinventa-se através de um desafio permanente, dar sentido à vida e continuar na trilha de tornar a arte um caminho necessário para o processo educacional e vivencial da cidade. Também é bom rememorar o belíssimo festival de contos de Cabo Frio, organizado pela LITERARTE, da incrível Isabelle Valladares, em 2013, um acontecimento impactante para as letras de Cabo Frio.
A poesia Cabofriense também teve suas perdas. A figura do poeta  Paulo da Silveira, patrono do Clube do Poeta e mentor de nomes como Azul Cazu e Fabio de Freitas, era uma referência de resistência e permanência na linguagem e, agora, recentemente, nos despedimos do querido Carlos Alberto, da ARTPOP, que fazia forte militância pela literatura local, criando uma fonte inesgotável de relações entre o fazer literário e a conjunção de forças diferentes da busca do fazer artístico.
Uma mistura de gerações, em saraus das mais diversas naturezas inventivas, agora, parecem encontrar impacto e permanência em Cabo Frio, apontando para a possibilidade de uma nova era para o forte movimento que está surgindo na cidade.

(Jiddu Saldanha - Blogueiro)