OBRIGADO POR SUA HISTÓRIA

quinta-feira, 21 de maio de 2009

LUIS FERNANDO VERÍSSIMO - Porto Alegre - RS

ENCONTRO COM UM MESTRE!





Encontrei Luis Fernando Veríssimo no Festival de Poesia do Rio de Janeiro, em 2004. Ele estava recebendo uma homenagem em Teresópolis onde fui convidado a fazer mímica. Tivemos um “conversinha gaúcha”, tudo na maior simplicidade. Apresento a vocês o resultado dequele momento cheio de sabedoria e respeito!



Mestres Narradores - Luis Fernando Veríssimo, você gosta de cinema?
Luis Fernando Veríssimo - Olha, o Fellini é um dos meus cineastas favoritos. Eu até tenho uma passagem pra contar de uma vez quando eu estava em Roma, caminhando durante a noite quando dei de cara com uma filmagem. E era o Fellini filmando a “Doce Vida”, com a Anita Hekberg. Isto foi muitos anos atrás!

MN - Inclusive é uma das obras primas dele.
LFV - Sim, acho que é o filme principal dele com Marcelo Mastroianni. Isto eu vou botar nas minhas memórias inóspitas (risos).

MN - Tem uma coisa de imagens em teus livros que se constrói rapidamente na memória do leitor. Isto tem alguma influência do cinema?
LFV - Conscientemente acho que não mas, de certa maneira nós todos, de uma geração pra cá fomos influenciados pelo cinema. Pelo corte cinematográfico, a narrativa cinematográfica. Não é uma coisa consciente mas nós fomos criados com isto e creio então que isto seja inevitável.

MN - Você “estourou” nacionalmente com o Analista de Bagé, na década de 80. Foi este livro que te tornou conhecido?
LFV - Sim, foi meu primeiro livro que teve uma repercussão nacional e que vendeu muito bem, acho que é um livro de 80 ou 81 se não me engano. Já tinha saído outros livros meus mas este teve uma repercussão maior.

MN - Me parece que os autores gaúchos ficam bem conhecidos no Rio Grande do Sul. O estado possui uma mídia interna muito presente na sociedade local, valorizando o escritor local. É isto mesmo?
LFV - Sim, o Rio Grande do Sul tem esta característica de ser um mercado próprio, vamos dizer assim, autores que escrevem e que tem um bom público e que vendem bem mas só no mercado gaúcho e eventualmente ganham projeção nacional mas, muitos deles são escritores de uma obra já grande, de um público grande também mas... gaúcho né? Talvez seja o único Estado brasileiro que tem isto com esta intensidade. O Paraná tem pouco, o Nordeste tem pouco também. É um mercado local que talvez nenhum outro estado brasileiro tenha.

MN - Existe também a questão dos eventos literários que são fortíssimas atrações por lá, né?
LFV - Sim, principalmente a nossa Feira do Livro que é um grande acontecimento não só cultural mas também social, da cidade de Porto Alegre, que se transforma numa festa, num ponto de encontro da população. É uma festa mesmo!




MN - Quem já leu Érico Veríssimo e lê o Luis Fernando Veríssimo percebe que são obras bem diferentes. Você pode dizer que ouve ou não alguma influência do Érico Veríssimo?
LFV - Influência direta acho que não mas o fato de ser filho de escritor e viver numa casa em que o livro era uma coisa importante e de conviver com outros escritores também, isto indiretamente influenciou mas, o que eu faço, é bem diferente. Meu pai era um romancista, deixou uma obra importante e eu sempre fiz esta coisa que ninguém sabe bem o que é mas que, na verdade, é crônica, meio jornalismo, meio literatura. Então, é algo realmente bem diferente. Meu pai foi também um dos primeiros escritores brasileiros a escrever de forma meio informal mas influenciado pela literatura anglo-saxônica e eu também acho que escrevo com uma certa informalidade. Não é um estilo muito empolado...

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MN - Você parece dizer algo na tua escrita que se comunica muito bem com esta época que estamos vivendo. O que você acha disso?
LFV - É... se bem que eu também já estou ficando... já não sou mais... sou de uma geração meio passada, ta vindo aí muita gente boa, muitos jovens com outra linguagem, com outro tipo de abordagem. Então eu já estou no ocaso, vamos dizer assim!

MN - O que você gostaria de dizer aos nossos leitores?
LFV - Acho que só sugerir que não se perca este gosto comum que todos temos pela literatura. A gente não deve perder este gosto, apesar de tantos atrativos que a vida oferece. Acho que a gente não deve perder nosso apego à plavra escrita. Mesmo se não for em livro, se for em tela de televisão ou de computador mas sempre a palavra escrita, as letrinhas, né? As letrinhas...


Entrevista concluída em Novembro de 2004

Entrevistador: Jiddu Saldanha - jidduks@uol.com.br www.jiddusaldanha.com