OBRIGADO POR SUA HISTÓRIA

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Benita Prieto - Rio de Janeiro/RJ

- Entrevista revista e ampliada em 22.09.2011

Em 1993 fui aluno do grupo Morandubetá com quem estudei técnicas de narração de histórias. Fui aluno de  todos os membros do Grupo. Na época se revesavam na sala de ensino de narração, n UERJ: Celso Sisto, Lúcia Fidalgo, Eliana Yunes e Benita Prieto. 
Em 2002 fui convidado para ser o apresentador do II Simpósio Internacional de Contadores de História e foi quando despertei, de fato, para a arte de contar histórias. Nunca mais fui o mesmo! 
Benita foi a pessoa que incendiou o caminho de uma nova possibilidade artística para mim e agora, já com 10 anos de história como Narrador, agradeço a esta pessoa visionária que contribuiu para que a arte da narração encontrasse um chão firme onde pisar, por este imenso Brasil.
Segue aqui uma entrevista feita em 2003, revisada em 2010 e relançada agora, em 2011, quando se aproxima a data de comemoração dos 10 anos do Simpósio. Vamos conhecer um pouco desta grande articuladora da arte de Narrar.



Benita Prieto além de contadora de histórias é também uma incentivadora do movimento em todo o Brasil. Vamos conhecer um pouco de seu pensar e viver esta arte dos grandes mestres griôs!
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Jiddu Saldanha - Fale um pouco da sua carreira como contadora de histórias, há quanto tempo você se dedica a este trabalho.

BP - Dizem que conto histórias desde pequena, mas não me lembro disso. Na verdade, eu já brincava com personagens aos 5 anos de idade, no atelier do Sr. Chico, que era carnavalesco do Salgueiro. Oficialmente ingressei nessa área quando fui convidada para entrar no Grupo Morandubetá, em 1991. Já era atriz e passei a me dedicar a narrar. Foi uma guinada e ao mesmo tempo um desafio. Durante o primeiro ano de trabalho só sabia contar uma história, precisava ter bastante experiência com ela para me sentir segura. Um dia tudo se abriu dentro de mim e passei a acreditar que realmente podia ser uma contadora.

JS - Que transformações você vem sentindo na forma de se lidar com crianças no Brasil.

BP - Acho que as crianças continuam a ser tratadas como imbecis na maior parte do tempo. Existe uma idéia tatibitate de relação. A conversa não flui e sempre descamba para lição de moral. Claro que estou falando do rádio e TV, embora mesmo nessas mídias existam exceções que não chegam ao grande público. Por outro lado há um desrespeito total aos valores sociais, éticos, psicológicos. É preciso uma mudança rápida e efetiva ou senão teremos muita gente perversa dirigindo esse país nos próximos anos.
Mas vamos fazer justiça à ação da literatura infantil e juvenil que tem chegado aos anseios da criança. Os autores e ilustradores brasileiros são fantásticos. Os livros estão bem cuidados. O que falta é termos bibliotecas em todos os municípios e um barateamento no custo do livro. Assim haverá uma democratização da leitura.

JS - Como surgiu o grupo Morandubetá?

BP - Antes é bom dizer que Morandubetá significa muitas histórias na língua tupi. O grupo de contadores de histórias surgiu em 1990 na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil após curso com o grupo venezuelano "En Cuentos y Encantos". O grupo é formado por profissionais de diversas áreas de atuação: Celso Sisto, Eliana Yunes, Lúcia Fidalgo e Benita Prieto.

JS - Que tipo de atividade você e o grupo têm desenvolvido
ultimamente


BP - Nos últimos anos fizemos apresentações por todo o Brasil e exterior. Temos estado por bibliotecas, seminários, congressos, simpósios, escolas, universidades, hospitais, teatros, feiras de livros, museus, praças públicas, programas de rádio e de televisão. Além de apresentações ministramos oficinas e palestras nas áreas de Literatura, Leitura e Narração Oral.

JS - O simpósio de contadores de histórias tornou-se agenda obrigatória no Rio de Janeiro, fale deste projeto, como surgiu a idéia de criar um evento desta magnitude?

BP - Em 1996 fui com a cara e a coragem até a Argentina ver o Encontro de Contadores de Histórias. Fiquei encantada e pensei que não era justo o Brasil não ter esse tipo de evento. Comecei então minha batalha para convencer um patrocinador que aceitasse o desafio. Em 1999, o Leia Brasil, que era patrocinado pela Petrobras topou. Assim com apoio do SESC Rio e SESC São Paulo fizemos o primeiro Encontro Internacional de Contadores de Histórias. Em 2002 o SESC Rio comprou a idéia e passou a ser o parceiro do Simpósio Internacional de Contadores de Histórias. Desse modo estamos inseridos nos eventos internacionais nessa área e somos referência para outros países.

JS - Desde que você começou a trabalhar com histórias, o que, de fato, tem mudado no Rio de Janeiro e Brasil, no que tange à forma de se trabalhar com crianças e adultos, através desta linguagem?

BP - No princípio ninguém sabia o que era contar. Diziam que estávamos representando, lendo, dramatizando histórias. A imprensa, as instituições, os patrocinadores não entendiam o que fazíamos. A própria equipe da Bienal do Livro de 1995 pediu que fizéssemos uma apresentação no SNEL para mostrar como trabalhávamos. Foi nesse ano que os contadores atuaram no Canto dos Contos, coordenados pelo Morandubetá. Um sucesso e uma projeção para essa arte. Dai muita gente pensou que era moleza e passou a fazer de qualquer jeito. Sem usar a arte de contar para promover a leitura que sempre foi o nosso objetivo.
Mas o tempo passou e ganhamos uma dimensão e um status. Hoje os contadores de histórias que estão na ativa são muito qualificados e estudiosos. Muitas universidades mostram a técnica de contar, através de cursos extracurriculares. Todos os veículos de comunicação sabem quem são os contadores e a importância que tem para a preservação das culturas populares e aproximação dos jovens à leitura.

JS – Em 2003, você esteve em Moçambique, conte aos leitores do "La Estrada" como foi, viver a experiência de levar a narrativa ao estilo brasileiro para a África?

BP - Existem momentos nas nossas vidas que parecem sonhos. Foi o que aconteceu comigo em relação à África. Somos tão diferentes e tão próximos. Nossa forma de contar é muito sintética. Mas eles adoraram. Divertiram-se muito com nosso humor. Acharam esquisitas nossas histórias de assombração, pois a relação deles com os espíritos é ancestral. Vibraram com os contos autorais brasileiros. Interessante é que eles também usam bastante o corpo para contar, diferente dos europeus, que normalmente só trabalham a palavra.

JS - Cite alguns dos contadores de histórias que você. tem encontrado no teu caminho e que te impressionaram.

BP - Vou falar de uma unanimidade, em primeiro lugar. É o nosso mestre Fernando Lébeis, a voz mais impressionante que já ouvi na vida. Ele me despertou o amor pela cultura popular, me ensinou a olhar com carinho as nossas histórias. Anos depois conheci Ana Garcia Castellano, da Espanha, que me impactou pela sua força narrativa e pela sua essência poética. Esses são dois exemplos, mas eu aprendo com cada contador alguma coisa. São essas sutilezas que me fascinam na arte de narrar. A mesma história pode ser contada de várias maneiras e todas serão belas desde que haja a entrega de quem narra.

JS - O que você gostaria de sugerir aos jovens que querem iniciar uma carreira de contador de histórias?

BP - O mais importante é que estudem e leiam muito. Não há no Brasil uma formação específica nessa área, desse modo o interessado tem que ser autodidata. Precisa fazer muitas oficinas, ver muitos contadores, descobrir o seu estilo de contar, o gênero de história que lhe dá prazer. Evitar copiar o repertório dos outros contadores. E principalmente usar os seus próprios recursos. Somos contadores na essência, estamos durante toda a vida construindo histórias. A narrativa faz parte do dia a dia. Um olhar para dentro pode ser o estopim dessa arte em cada um de nós.

JS – Recentemente foi criado o Instituto Conta Brasil do qual você é presidente. Quem compõe a diretoria e qual o objetivo do instituto.

BP - O Conta Brasil, Instituto dos Contadores de Histórias do Brasil, é uma organização sem fins lucrativos, de caráter social, cultural, científico e educacional que tem como fim promover um espaço de debates e ações nas áreas da tradição oral, da literatura e da leitura, abrangendo contadores de histórias, mediadores e agentes de leitura, educadores, artistas, cientistas, pesquisadores e afins. E objetiva congregar contadores de histórias, mediadores e agentes de leitura que propaguem a tradição oral e a literatura do Brasil e de outros países.
São Sócios Fundadores os contadores de histórias de sete estados distintos, com reconhecida atuação no movimento dos contadores de histórias e incentivo à leitura: Benita Prieto / Rio de Janeiro (Presidente), Zé Bocca / São Paulo (Vice-Presidente), Rosana Mont’Alverne / Minas Gerais (Diretora de ação cultural), Glauter Barros / Rio de Janeiro (Diretor administrativo), Almir Mota / Ceará (Diretor financeiro), Fabiano Moraes / Espírito Santo (Diretor de comunicação), Luiz Elói / Minas Gerais; Lenice Gomes / Pernambuco e Gilka Girardelo / Santa Catarina (Conselho fiscal).

domingo, 16 de agosto de 2009

Entrevista com Tatiana Henrique!















Observo o trabalho de Tatiana Henrique por pelo menos 5 anos, resolvi então entrevistá-la para que os leitores do blog Mestres Narradores a conheçam melhor.


Mestres Narradores – Como foi que você começou a lida de contar histórias por aí?

Tatiana Henrique - Foi assim: antes da contadora, veio uma menina tímida, tímida, que ouvia a prima contar piadas. Eu achava lindo, a minha prima fazendo expressões várias, usando as entonações de voz (na época, claro, eu não dava esse nome para essas coisas, mas percebia todos esses movimentos e ficava encantada com isso – como podia? Ela contar daquele jeito?)...
Só tinha um problema – em mim!: Eu não conseguia memorizar nenhuma piada! Nem reproduzir aquilo que via – pois é, eu fui aprender depois que, para contar qualquer coisa, você tem de estar envolvido com essa história e não apenas contar por contar...
E mais: a menina era tímida, e foi crescendo assim, com vontade de contar, de fazer as pessoas rirem do que ela falava, de se comunicar de alguma maneira.
Vida vai, vida vem, muita água rolou por baixo da ponte. E chegou um dia que eu decidi: iria fazer teatro. Foram os anos mais completos da minha vida. Como era feliz não ter dinheiro, mas ensaiar, ensaiar e apresentar o trabalho.

MN – E enquanto isso você buscava uma definição profissional?

TH - Tentei vestibular e não passei, e então me vi assim: com 20 anos e uma necessidade interna de não ficar sem emprego e nem faculdade, ou seja, começar uma trilha profissional. Então, decidi: vou começar pelos textos. E entrei para a faculdade de Letras.
Foi muito triste, pois sabia que não iria mais ter o tempo disponível que eu tinha antes. Que eu teria de parar mesmo.
Aí, olha só o que acontece: meu companheiro na época disse: “Ah! Você ainda pode contar histórias!” Eu fiquei tão injuriada quando ele me disse aquilo! Senti como se fosse um palavrão – eu não sabia o que era isso e pensava ser algo de “categoria menor”.
No 2º período, entrei para o CCBB e progredindo, fui para no Setor Educativo. Houve uma reformulação da proposta pedagógica e dentro dela foram incluídas as contações de histórias. Então, de repente, comecei a me envolver com isso, já que vinha de dois campos que convergiam para aquilo: Letras e Teatro.

MN – E ai você foi descobrindo que era uma narradora em potencial?

TH - E fui aprendendo, na prática, no contato com as pessoas, a ouvir as histórias e a transformá-las em contação. E foi ótimo, porque, como eu não fiz nenhum curso para “aprender”, eu tinha de ficar atenta a tudo e testar tudo que aparecesse: objetos, músicas, figurinos etc. etc. A única oficina de contação de histórias que fiz na vida foi com Francisco Gregório, no Paço Imperial, RJ. Mas nesse momento eu já tinha uma linguagem, já havia encontrado a minha praia, a minha simplicidade: o corpo! O meu figurino a partir de então era apenas para me dar liberdade, me deixar esteticamente apresentável ao público, as músicas não eram só para divertir ou acordar ou quebrar momentos, mas se tornaram texto também. Enfim, fui modelando o meu modo de contar, no qual eu acredito: uma conversa íntima de troca de experiência com o corpo imbuído 100% nas delicadezas e forças das palavras.

MN - Parece que pintaram umas viagens neste período, não?

TH - Em 2005, a coisa pegou uma cauda de estrela e foi pro céu: uma equipe do Miami-Dade Public Library System veio ao Brasil visitar vários locais e entre eles, o CCBB. Eu fiz a apresentação do espaço com eles e começamos a conversar sobre as atividades e eu falei sobre as nossas contações, a tradição oral. Foi quando a Sra. Lucreece Louidshon, diretora do Sistema contou o motivo da vinda deles ao Brasil: era o 5º ano que eles realizavam o “The Art of Storytelling”, um festival de contação de histórias, promovido por esse sistema de bibliotecas. A cada ano, um país diferente era homenageado e na edição de 2006 seria o Brasil. Por isso, eles estavam nos visitando para conhecer os aparelhos culturais disponíveis e escolher... um contador de histórias para representar o país no festival e... achavam que haviam acabado de encontrar!

MN - Quais histórias você contou no The Art of Storytelling?

TH - Contei duas histórias: “a menina e a figueira” e “mãe d´água”.
Vou te dizer: fiquei muito preocupada antes de acontecer. Isso porque eu sabia como o público brasileiro normalmente reagia a essas histórias. Mas, lá?! Como seria?
Eu tinha me formado em 2004 e escrito a minha monografia “Contando com o Espaço”, em que falava sobre o papel das configurações espaciais na relação entre contadores e público (um dia ainda transformo em livro). Havia estudado sobre as diferenças culturais de tolerância à proximidade e esses estudos diziam: cada povo encara isso de modos distintos. E fiquei “encucadíssima”, pois no princípio de intimidade, que eu seguia, eu tinha liberdade de me aproximar das pessoas. E lá?

MN – Como eles reagiram?

TH - Pois eu tive uma surpresa maravilhosa: eu aprendi que o mais de tudo é a história e não importa onde a história nasceu ou foi falada: todas elas falam de seres humanos, das suas alegrias, desejos e frustrações. E qualquer ser humano, tenha nascido no Brasil, nos EUA ou na Groenlândia tem sentimentos. Ponto!
E foi uma delícia: todo mundo recebeu as histórias super bem!
Depois disso, recebi mais dois convites: para a Miami Book Fair e para o PanAfrican Book Fest, os dois em 2007. Contei nesses eventos e em escolas. Aí veio a crise nos EUA e os cortes e daí vai!
E o trabalho começou a crescer e crescer muito.
Meu próximo desejo é ir à África norte-ocidental e à Índia para observar os contadores de lá. As oficinas que eu compartilho são em cima dessas duas culturas: a tradição oral e os princípios “griot”, o que podemos aplicar nos dias de hoje, e os ensinamentos do Natya Shastra – estou em busca alucinada por esse.

MN – Como você vê hoje o universo dos contadores de histórias desde que você começou até hoje?

TH - Acredito que houve uma tomada de consciência das tradições por parte dos jovens. E acho isso importantíssimo, não só por motivos profissionais, mas para a construção de identidades. Assim, há um equilíbrio saudabilíssimo entre as tecnologias e tudo que elas podem nos oferecer e a origem de quem somos. E essa é fundamental para uma utilização consciente da primeira.
Agora: também vejo muitas coisas que me incomodam: já vi gente utilizando muita coisa ao mesmo tempo agora pra contar. E acabava que a história ficava perdida. A pessoa queria aparecer mais que a história. Logo, a contação não acontece! Não houve troca, não houve afeto. Não se instaura uma espécie de paraíso que a história instaura na gente. Aí, quando vejo isso, sinto “puxa, que pena...!”
E sabe o que eu acho mais engraçado: é não perceber que se a história aparece, o contador automaticamente aparece junto. Mas isso é muito sutil, tem uma hora que você percebe. Não adianta ninguém apenas te dizer isso; tem que haver aquele click interno.

MN – Quem são os artistas desta área que você gostaria de citar aqui e o que te impressionou no trabalho deles?

TH - Puxa, Fracisco Gregório, Inno Sorsy e Boniface Ofogo: com eles aprendi a usar minha voz, a encontrar a Tatiana menina que queria juntar todo mundo pra contar coisas e causar efeitos nas pessoas sobre as coisas que ela conta. Também com eles, me sensibilizei a procurar minhas tradições internas. Porque minha família é daquele tipo brasileiro-cosmopolita: a gente não sabe muito bem de onde veio. Sabe os genéricos: português, italiano, indígena, africano. Mas de onde exatamente, qual é a etnia, nós não sabemos. Então sempre senti falta de ter histórias que foram contadas pra minha avó, que passou pra minha mãe e pra mim, entende? Então, decidi: Ah! Vou criar minhas tradições a partir de agora. Se sou cosmopolita, então o mundo é minha tradição! As histórias do mundo inteiro são minhas também, foram herdadas por mim. Vou escolher aquelas que tocarem o meu coração e pronto: tá aí meu baú, a minha tradição! (RS)

MN – O que a contação de histórias acrescentou para sua vida pessoal?

TH - Nossa, são tantas coisas! Profissionalmente, ele me deu ferramentas para trabalhar meu corpo esteticamente, me dando um caminho que, seja em Teatro, em Contação de Histórias ou em Educação, eu sigo sempre.
E pessoalmente, me fez ver o mundo com mais poesia, unir o lógico ao ilógico. E prestar mais atenção nas pessoas, nas suas histórias, no que elas têm a compartilhar. As histórias me ensinaram a ouvir a estar atenta. E isso é difícil pra quem vive nesse turbilhão que são os dias de hoje.

MN - Quem é Tatiana Henrique por Tatiana Henrique?

TH - A Tatiana Henrique é uma pessoa extremamente comum, que faz bico, fica de cara amarrada, sorri, chora, e que tem uma vontade profunda de deixar algo de positivo nesse mundo que acrescente uma visão, uma audição, um tato, um paladar, um olfato, diferentes do que a gente costuma ser ensinado que a gente tem de ter.
É uma pessoa que acredita que as coisas e as pessoas não são separadas em caixinhas, que tudo tem dimensões, camadas e que pra percebê-las só o tempo pode ajudar.
E que adora massagem nos pés!


veja o blog de Tatiana Henrique (clique aqui)
Veja o cineclipe com ela no youtube (clique aqui)

entrevistada por Jiddu Saldanha http://www.jiddusaldanha.com/ tel: 21 92485170

quinta-feira, 21 de maio de 2009

LUIS FERNANDO VERÍSSIMO - Porto Alegre - RS

ENCONTRO COM UM MESTRE!





Encontrei Luis Fernando Veríssimo no Festival de Poesia do Rio de Janeiro, em 2004. Ele estava recebendo uma homenagem em Teresópolis onde fui convidado a fazer mímica. Tivemos um “conversinha gaúcha”, tudo na maior simplicidade. Apresento a vocês o resultado dequele momento cheio de sabedoria e respeito!



Mestres Narradores - Luis Fernando Veríssimo, você gosta de cinema?
Luis Fernando Veríssimo - Olha, o Fellini é um dos meus cineastas favoritos. Eu até tenho uma passagem pra contar de uma vez quando eu estava em Roma, caminhando durante a noite quando dei de cara com uma filmagem. E era o Fellini filmando a “Doce Vida”, com a Anita Hekberg. Isto foi muitos anos atrás!

MN - Inclusive é uma das obras primas dele.
LFV - Sim, acho que é o filme principal dele com Marcelo Mastroianni. Isto eu vou botar nas minhas memórias inóspitas (risos).

MN - Tem uma coisa de imagens em teus livros que se constrói rapidamente na memória do leitor. Isto tem alguma influência do cinema?
LFV - Conscientemente acho que não mas, de certa maneira nós todos, de uma geração pra cá fomos influenciados pelo cinema. Pelo corte cinematográfico, a narrativa cinematográfica. Não é uma coisa consciente mas nós fomos criados com isto e creio então que isto seja inevitável.

MN - Você “estourou” nacionalmente com o Analista de Bagé, na década de 80. Foi este livro que te tornou conhecido?
LFV - Sim, foi meu primeiro livro que teve uma repercussão nacional e que vendeu muito bem, acho que é um livro de 80 ou 81 se não me engano. Já tinha saído outros livros meus mas este teve uma repercussão maior.

MN - Me parece que os autores gaúchos ficam bem conhecidos no Rio Grande do Sul. O estado possui uma mídia interna muito presente na sociedade local, valorizando o escritor local. É isto mesmo?
LFV - Sim, o Rio Grande do Sul tem esta característica de ser um mercado próprio, vamos dizer assim, autores que escrevem e que tem um bom público e que vendem bem mas só no mercado gaúcho e eventualmente ganham projeção nacional mas, muitos deles são escritores de uma obra já grande, de um público grande também mas... gaúcho né? Talvez seja o único Estado brasileiro que tem isto com esta intensidade. O Paraná tem pouco, o Nordeste tem pouco também. É um mercado local que talvez nenhum outro estado brasileiro tenha.

MN - Existe também a questão dos eventos literários que são fortíssimas atrações por lá, né?
LFV - Sim, principalmente a nossa Feira do Livro que é um grande acontecimento não só cultural mas também social, da cidade de Porto Alegre, que se transforma numa festa, num ponto de encontro da população. É uma festa mesmo!




MN - Quem já leu Érico Veríssimo e lê o Luis Fernando Veríssimo percebe que são obras bem diferentes. Você pode dizer que ouve ou não alguma influência do Érico Veríssimo?
LFV - Influência direta acho que não mas o fato de ser filho de escritor e viver numa casa em que o livro era uma coisa importante e de conviver com outros escritores também, isto indiretamente influenciou mas, o que eu faço, é bem diferente. Meu pai era um romancista, deixou uma obra importante e eu sempre fiz esta coisa que ninguém sabe bem o que é mas que, na verdade, é crônica, meio jornalismo, meio literatura. Então, é algo realmente bem diferente. Meu pai foi também um dos primeiros escritores brasileiros a escrever de forma meio informal mas influenciado pela literatura anglo-saxônica e eu também acho que escrevo com uma certa informalidade. Não é um estilo muito empolado...

clique na imagem e navegue no site de Luis Fernando Veríssimo





MN - Você parece dizer algo na tua escrita que se comunica muito bem com esta época que estamos vivendo. O que você acha disso?
LFV - É... se bem que eu também já estou ficando... já não sou mais... sou de uma geração meio passada, ta vindo aí muita gente boa, muitos jovens com outra linguagem, com outro tipo de abordagem. Então eu já estou no ocaso, vamos dizer assim!

MN - O que você gostaria de dizer aos nossos leitores?
LFV - Acho que só sugerir que não se perca este gosto comum que todos temos pela literatura. A gente não deve perder este gosto, apesar de tantos atrativos que a vida oferece. Acho que a gente não deve perder nosso apego à plavra escrita. Mesmo se não for em livro, se for em tela de televisão ou de computador mas sempre a palavra escrita, as letrinhas, né? As letrinhas...


Entrevista concluída em Novembro de 2004

Entrevistador: Jiddu Saldanha - jidduks@uol.com.br www.jiddusaldanha.com