- Entrevista revista e ampliada em 22.09.2011
Em 1993 fui aluno do grupo Morandubetá com quem estudei técnicas de narração de histórias. Fui aluno de todos os membros do Grupo. Na época se revesavam na sala de ensino de narração, n UERJ: Celso Sisto, Lúcia Fidalgo, Eliana Yunes e Benita Prieto.
Em 2002 fui convidado para ser o apresentador do II Simpósio Internacional de Contadores de História e foi quando despertei, de fato, para a arte de contar histórias. Nunca mais fui o mesmo!
Benita foi a pessoa que incendiou o caminho de uma nova possibilidade artística para mim e agora, já com 10 anos de história como Narrador, agradeço a esta pessoa visionária que contribuiu para que a arte da narração encontrasse um chão firme onde pisar, por este imenso Brasil.
Segue aqui uma entrevista feita em 2003, revisada em 2010 e relançada agora, em 2011, quando se aproxima a data de comemoração dos 10 anos do Simpósio. Vamos conhecer um pouco desta grande articuladora da arte de Narrar.
Benita Prieto além de contadora de histórias é também uma incentivadora do movimento em todo o Brasil. Vamos conhecer um pouco de seu pensar e viver esta arte dos grandes mestres griôs!
______________ Jiddu Saldanha - Fale um pouco da sua carreira como contadora de histórias, há quanto tempo você se dedica a este trabalho.
BP - Dizem que conto histórias desde pequena, mas não me lembro disso. Na verdade, eu já brincava com personagens aos 5 anos de idade, no atelier do Sr. Chico, que era carnavalesco do Salgueiro. Oficialmente ingressei nessa área quando fui convidada para entrar no Grupo Morandubetá, em 1991. Já era atriz e passei a me dedicar a narrar. Foi uma guinada e ao mesmo tempo um desafio. Durante o primeiro ano de trabalho só sabia contar uma história, precisava ter bastante experiência com ela para me sentir segura. Um dia tudo se abriu dentro de mim e passei a acreditar que realmente podia ser uma contadora.
JS - Que transformações você vem sentindo na forma de se lidar com crianças no Brasil.
BP - Acho que as crianças continuam a ser tratadas como imbecis na maior parte do tempo. Existe uma idéia tatibitate de relação. A conversa não flui e sempre descamba para lição de moral. Claro que estou falando do rádio e TV, embora mesmo nessas mídias existam exceções que não chegam ao grande público. Por outro lado há um desrespeito total aos valores sociais, éticos, psicológicos. É preciso uma mudança rápida e efetiva ou senão teremos muita gente perversa dirigindo esse país nos próximos anos.
Mas vamos fazer justiça à ação da literatura infantil e juvenil que tem chegado aos anseios da criança. Os autores e ilustradores brasileiros são fantásticos. Os livros estão bem cuidados. O que falta é termos bibliotecas em todos os municípios e um barateamento no custo do livro. Assim haverá uma democratização da leitura.
JS - Como surgiu o grupo Morandubetá?
BP - Antes é bom dizer que Morandubetá significa muitas histórias na língua tupi. O grupo de contadores de histórias surgiu em 1990 na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil após curso com o grupo venezuelano "En Cuentos y Encantos". O grupo é formado por profissionais de diversas áreas de atuação: Celso Sisto, Eliana Yunes, Lúcia Fidalgo e Benita Prieto.
JS - Que tipo de atividade você e o grupo têm desenvolvido
ultimamente
BP - Nos últimos anos fizemos apresentações por todo o Brasil e exterior. Temos estado por bibliotecas, seminários, congressos, simpósios, escolas, universidades, hospitais, teatros, feiras de livros, museus, praças públicas, programas de rádio e de televisão. Além de apresentações ministramos oficinas e palestras nas áreas de Literatura, Leitura e Narração Oral.
JS - O simpósio de contadores de histórias tornou-se agenda obrigatória no Rio de Janeiro, fale deste projeto, como surgiu a idéia de criar um evento desta magnitude?
BP - Em 1996 fui com a cara e a coragem até a Argentina ver o Encontro de Contadores de Histórias. Fiquei encantada e pensei que não era justo o Brasil não ter esse tipo de evento. Comecei então minha batalha para convencer um patrocinador que aceitasse o desafio. Em 1999, o Leia Brasil, que era patrocinado pela Petrobras topou. Assim com apoio do SESC Rio e SESC São Paulo fizemos o primeiro Encontro Internacional de Contadores de Histórias. Em 2002 o SESC Rio comprou a idéia e passou a ser o parceiro do Simpósio Internacional de Contadores de Histórias. Desse modo estamos inseridos nos eventos internacionais nessa área e somos referência para outros países.
JS - Desde que você começou a trabalhar com histórias, o que, de fato, tem mudado no Rio de Janeiro e Brasil, no que tange à forma de se trabalhar com crianças e adultos, através desta linguagem?
BP - No princípio ninguém sabia o que era contar. Diziam que estávamos representando, lendo, dramatizando histórias. A imprensa, as instituições, os patrocinadores não entendiam o que fazíamos. A própria equipe da Bienal do Livro de 1995 pediu que fizéssemos uma apresentação no SNEL para mostrar como trabalhávamos. Foi nesse ano que os contadores atuaram no Canto dos Contos, coordenados pelo Morandubetá. Um sucesso e uma projeção para essa arte. Dai muita gente pensou que era moleza e passou a fazer de qualquer jeito. Sem usar a arte de contar para promover a leitura que sempre foi o nosso objetivo.
Mas o tempo passou e ganhamos uma dimensão e um status. Hoje os contadores de histórias que estão na ativa são muito qualificados e estudiosos. Muitas universidades mostram a técnica de contar, através de cursos extracurriculares. Todos os veículos de comunicação sabem quem são os contadores e a importância que tem para a preservação das culturas populares e aproximação dos jovens à leitura.
JS – Em 2003, você esteve em Moçambique, conte aos leitores do "La Estrada" como foi, viver a experiência de levar a narrativa ao estilo brasileiro para a África?
BP - Existem momentos nas nossas vidas que parecem sonhos. Foi o que aconteceu comigo em relação à África. Somos tão diferentes e tão próximos. Nossa forma de contar é muito sintética. Mas eles adoraram. Divertiram-se muito com nosso humor. Acharam esquisitas nossas histórias de assombração, pois a relação deles com os espíritos é ancestral. Vibraram com os contos autorais brasileiros. Interessante é que eles também usam bastante o corpo para contar, diferente dos europeus, que normalmente só trabalham a palavra.
JS - Cite alguns dos contadores de histórias que você. tem encontrado no teu caminho e que te impressionaram.
BP - Vou falar de uma unanimidade, em primeiro lugar. É o nosso mestre Fernando Lébeis, a voz mais impressionante que já ouvi na vida. Ele me despertou o amor pela cultura popular, me ensinou a olhar com carinho as nossas histórias. Anos depois conheci Ana Garcia Castellano, da Espanha, que me impactou pela sua força narrativa e pela sua essência poética. Esses são dois exemplos, mas eu aprendo com cada contador alguma coisa. São essas sutilezas que me fascinam na arte de narrar. A mesma história pode ser contada de várias maneiras e todas serão belas desde que haja a entrega de quem narra.
JS - O que você gostaria de sugerir aos jovens que querem iniciar uma carreira de contador de histórias?
BP - O mais importante é que estudem e leiam muito. Não há no Brasil uma formação específica nessa área, desse modo o interessado tem que ser autodidata. Precisa fazer muitas oficinas, ver muitos contadores, descobrir o seu estilo de contar, o gênero de história que lhe dá prazer. Evitar copiar o repertório dos outros contadores. E principalmente usar os seus próprios recursos. Somos contadores na essência, estamos durante toda a vida construindo histórias. A narrativa faz parte do dia a dia. Um olhar para dentro pode ser o estopim dessa arte em cada um de nós.
JS – Recentemente foi criado o Instituto Conta Brasil do qual você é presidente. Quem compõe a diretoria e qual o objetivo do instituto.
BP - O Conta Brasil, Instituto dos Contadores de Histórias do Brasil, é uma organização sem fins lucrativos, de caráter social, cultural, científico e educacional que tem como fim promover um espaço de debates e ações nas áreas da tradição oral, da literatura e da leitura, abrangendo contadores de histórias, mediadores e agentes de leitura, educadores, artistas, cientistas, pesquisadores e afins. E objetiva congregar contadores de histórias, mediadores e agentes de leitura que propaguem a tradição oral e a literatura do Brasil e de outros países.
São Sócios Fundadores os contadores de histórias de sete estados distintos, com reconhecida atuação no movimento dos contadores de histórias e incentivo à leitura: Benita Prieto / Rio de Janeiro (Presidente), Zé Bocca / São Paulo (Vice-Presidente), Rosana Mont’Alverne / Minas Gerais (Diretora de ação cultural), Glauter Barros / Rio de Janeiro (Diretor administrativo), Almir Mota / Ceará (Diretor financeiro), Fabiano Moraes / Espírito Santo (Diretor de comunicação), Luiz Elói / Minas Gerais; Lenice Gomes / Pernambuco e Gilka Girardelo / Santa Catarina (Conselho fiscal).
BP - Dizem que conto histórias desde pequena, mas não me lembro disso. Na verdade, eu já brincava com personagens aos 5 anos de idade, no atelier do Sr. Chico, que era carnavalesco do Salgueiro. Oficialmente ingressei nessa área quando fui convidada para entrar no Grupo Morandubetá, em 1991. Já era atriz e passei a me dedicar a narrar. Foi uma guinada e ao mesmo tempo um desafio. Durante o primeiro ano de trabalho só sabia contar uma história, precisava ter bastante experiência com ela para me sentir segura. Um dia tudo se abriu dentro de mim e passei a acreditar que realmente podia ser uma contadora.
JS - Que transformações você vem sentindo na forma de se lidar com crianças no Brasil.
BP - Acho que as crianças continuam a ser tratadas como imbecis na maior parte do tempo. Existe uma idéia tatibitate de relação. A conversa não flui e sempre descamba para lição de moral. Claro que estou falando do rádio e TV, embora mesmo nessas mídias existam exceções que não chegam ao grande público. Por outro lado há um desrespeito total aos valores sociais, éticos, psicológicos. É preciso uma mudança rápida e efetiva ou senão teremos muita gente perversa dirigindo esse país nos próximos anos.
Mas vamos fazer justiça à ação da literatura infantil e juvenil que tem chegado aos anseios da criança. Os autores e ilustradores brasileiros são fantásticos. Os livros estão bem cuidados. O que falta é termos bibliotecas em todos os municípios e um barateamento no custo do livro. Assim haverá uma democratização da leitura.
JS - Como surgiu o grupo Morandubetá?
BP - Antes é bom dizer que Morandubetá significa muitas histórias na língua tupi. O grupo de contadores de histórias surgiu em 1990 na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil após curso com o grupo venezuelano "En Cuentos y Encantos". O grupo é formado por profissionais de diversas áreas de atuação: Celso Sisto, Eliana Yunes, Lúcia Fidalgo e Benita Prieto.
JS - Que tipo de atividade você e o grupo têm desenvolvido
ultimamente
BP - Nos últimos anos fizemos apresentações por todo o Brasil e exterior. Temos estado por bibliotecas, seminários, congressos, simpósios, escolas, universidades, hospitais, teatros, feiras de livros, museus, praças públicas, programas de rádio e de televisão. Além de apresentações ministramos oficinas e palestras nas áreas de Literatura, Leitura e Narração Oral.
JS - O simpósio de contadores de histórias tornou-se agenda obrigatória no Rio de Janeiro, fale deste projeto, como surgiu a idéia de criar um evento desta magnitude?
BP - Em 1996 fui com a cara e a coragem até a Argentina ver o Encontro de Contadores de Histórias. Fiquei encantada e pensei que não era justo o Brasil não ter esse tipo de evento. Comecei então minha batalha para convencer um patrocinador que aceitasse o desafio. Em 1999, o Leia Brasil, que era patrocinado pela Petrobras topou. Assim com apoio do SESC Rio e SESC São Paulo fizemos o primeiro Encontro Internacional de Contadores de Histórias. Em 2002 o SESC Rio comprou a idéia e passou a ser o parceiro do Simpósio Internacional de Contadores de Histórias. Desse modo estamos inseridos nos eventos internacionais nessa área e somos referência para outros países.
JS - Desde que você começou a trabalhar com histórias, o que, de fato, tem mudado no Rio de Janeiro e Brasil, no que tange à forma de se trabalhar com crianças e adultos, através desta linguagem?
BP - No princípio ninguém sabia o que era contar. Diziam que estávamos representando, lendo, dramatizando histórias. A imprensa, as instituições, os patrocinadores não entendiam o que fazíamos. A própria equipe da Bienal do Livro de 1995 pediu que fizéssemos uma apresentação no SNEL para mostrar como trabalhávamos. Foi nesse ano que os contadores atuaram no Canto dos Contos, coordenados pelo Morandubetá. Um sucesso e uma projeção para essa arte. Dai muita gente pensou que era moleza e passou a fazer de qualquer jeito. Sem usar a arte de contar para promover a leitura que sempre foi o nosso objetivo.
Mas o tempo passou e ganhamos uma dimensão e um status. Hoje os contadores de histórias que estão na ativa são muito qualificados e estudiosos. Muitas universidades mostram a técnica de contar, através de cursos extracurriculares. Todos os veículos de comunicação sabem quem são os contadores e a importância que tem para a preservação das culturas populares e aproximação dos jovens à leitura.
JS – Em 2003, você esteve em Moçambique, conte aos leitores do "La Estrada" como foi, viver a experiência de levar a narrativa ao estilo brasileiro para a África?
BP - Existem momentos nas nossas vidas que parecem sonhos. Foi o que aconteceu comigo em relação à África. Somos tão diferentes e tão próximos. Nossa forma de contar é muito sintética. Mas eles adoraram. Divertiram-se muito com nosso humor. Acharam esquisitas nossas histórias de assombração, pois a relação deles com os espíritos é ancestral. Vibraram com os contos autorais brasileiros. Interessante é que eles também usam bastante o corpo para contar, diferente dos europeus, que normalmente só trabalham a palavra.
JS - Cite alguns dos contadores de histórias que você. tem encontrado no teu caminho e que te impressionaram.
BP - Vou falar de uma unanimidade, em primeiro lugar. É o nosso mestre Fernando Lébeis, a voz mais impressionante que já ouvi na vida. Ele me despertou o amor pela cultura popular, me ensinou a olhar com carinho as nossas histórias. Anos depois conheci Ana Garcia Castellano, da Espanha, que me impactou pela sua força narrativa e pela sua essência poética. Esses são dois exemplos, mas eu aprendo com cada contador alguma coisa. São essas sutilezas que me fascinam na arte de narrar. A mesma história pode ser contada de várias maneiras e todas serão belas desde que haja a entrega de quem narra.
JS - O que você gostaria de sugerir aos jovens que querem iniciar uma carreira de contador de histórias?
BP - O mais importante é que estudem e leiam muito. Não há no Brasil uma formação específica nessa área, desse modo o interessado tem que ser autodidata. Precisa fazer muitas oficinas, ver muitos contadores, descobrir o seu estilo de contar, o gênero de história que lhe dá prazer. Evitar copiar o repertório dos outros contadores. E principalmente usar os seus próprios recursos. Somos contadores na essência, estamos durante toda a vida construindo histórias. A narrativa faz parte do dia a dia. Um olhar para dentro pode ser o estopim dessa arte em cada um de nós.
JS – Recentemente foi criado o Instituto Conta Brasil do qual você é presidente. Quem compõe a diretoria e qual o objetivo do instituto.
BP - O Conta Brasil, Instituto dos Contadores de Histórias do Brasil, é uma organização sem fins lucrativos, de caráter social, cultural, científico e educacional que tem como fim promover um espaço de debates e ações nas áreas da tradição oral, da literatura e da leitura, abrangendo contadores de histórias, mediadores e agentes de leitura, educadores, artistas, cientistas, pesquisadores e afins. E objetiva congregar contadores de histórias, mediadores e agentes de leitura que propaguem a tradição oral e a literatura do Brasil e de outros países.
São Sócios Fundadores os contadores de histórias de sete estados distintos, com reconhecida atuação no movimento dos contadores de histórias e incentivo à leitura: Benita Prieto / Rio de Janeiro (Presidente), Zé Bocca / São Paulo (Vice-Presidente), Rosana Mont’Alverne / Minas Gerais (Diretora de ação cultural), Glauter Barros / Rio de Janeiro (Diretor administrativo), Almir Mota / Ceará (Diretor financeiro), Fabiano Moraes / Espírito Santo (Diretor de comunicação), Luiz Elói / Minas Gerais; Lenice Gomes / Pernambuco e Gilka Girardelo / Santa Catarina (Conselho fiscal).
Clique aqui e veja o vídeo do CONTA BRASIL.
Veja o site do SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CONTADORES DE HISTÓRIAS
Veja o site de BENITA PRIETO
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