Desde 1994, viaja o Brasil ministrando oficinas e prestando assessoria a grupos de contadores de histórias e programas de leitura. Atuou no Proler, Leia Brasil, Paixão de Ler e diversas Bienais do Livro, além da participação como especialista na arte de contar histórias em seminários e jornadas de leitura.
Ministrou oficinas e implantou núcleos de contadores nas empresas: Furnas, Sulamerica e Unimed-Rio.
Foi o fundador e dinamizador do Grupo Latão de Histórias da Comunidade do Morro Santa Marta.
Atualmente, coordena a Spaço dos Contos/RJ, o primeiro centro de formação continuada de contadores de histórias do Brasil.
Jiddu Saldanha - Como você iniciou sua carreira de contador de histórias?
Laerte Vargas - A primeira oficina de que participei já, de cara, me deixou muito instigado a continuar. Na verdade, ainda tinha o olhar do ator e o pouco investimento necessário para contar histórias me interessou mais como uma ferramenta profissional do que como uma opção de linguagem. Mal sabia eu que o bichinho do contar já havia me fisgado. Logo reuni um grupo de pessoas para que começássemos a contar e a formar um repertório. Felizmente encontrei algumas instituições que abriram as portas para o meu trabalho, que desde o início foi remunerado. Dessa forma, o ofício foi tomando cada vez mais espaço em minha vida e me deu retorno imediato para a compra de livros e impressão de materiais de divulgação. Trabalhei um ano direto com o Museu de Folclore Edison Carneiro, participando de festivais de contos populares, material que se tornou o grande nicho de pesquisa de repertório para mim. Depois disso, os convites se sucederam e não parei mais.
JS - Na tua opinião, existe alguma relação entre o fazer teatro e o contar histórias?
LV - Existe uma diferença que, para mim, é fundamental: o ator representa; o contador de histórias apresenta. Quando o narrador começa a se sobrepor à história e necessita de muitos elementos para evocar as imagens que ela suscita, aí deixou de ser contação e passou a ser outra coisa, bem diferente. Esse papo de contação teatralizada é conversa pra boi dormir. Sempre digo que contar histórias é um exercício de simplicidade e generosidade. Na maioria das vezes, os elementos cênicos são desnecessários, pois eles acabam engolindo a história e o pretenso contador, com sua vaidade exacerbada, vai passando como um trator por cima do conto. Assim, o que resta é apenas um exercício narcísico. É importante dar espaço para que os ouvintes criem suas próprias imagens: esse é um dos maiores trunfos da contação frente à tecnologia atual. A imaginação anda preguiçosa, pois tudo vem muito pronto e arrumadinho. A criança, principalmente, precisa muito dessa ginástica imaginativa.
JS - O que mais te inspira a seguir nessa carreira?
LV - Propagar a ideia de que qualquer um pode contar histórias. A espetacularização da contação tira essa possibilidade, dá a sensação de que só aquela tribo que cursou a escola “TAL” ou outro curso de teatro, que fez aulas com a fono da moda ou que fez um trabalho corporal mirabolante pode realizar. A intenção primeira das minhas oficinas é que todos saiam instigados a contar. Sempre existirão contadores para grandes espaços e contadores para pequenas salas. E todos eles são fundamentais à sociedade. Cada um com o seu tempo, o seu ritmo, o seu olhar único e inimitável. Contadores são como um oásis na aridez das relações humanas de hoje em dia.
JS - Cite algumas histórias que você considera fundamentais para o desenvolvimento humano.
LV - Todas as histórias tradicionais (a maioria oriunda da tradição oral) são fundamentais para o desenvolvimento humano. Basta investigarmos as entrelinhas. A primeira chamada do meu blog é: “Aqui as historinhas são coisa séria”. Acostumou-se a ver esse material como uma coisa descartável e/ou banal, mas elas tratam, em uma linguagem metafórica, dos percalços da nossa trajetória. Esses contos nos conduzem a reflexões profundas acerca das nossas decisões e padrões de comportamento. A vastidão desse material é impressionante: encontramos contos que falam de incesto, homossexualidade, compulsão, enfim, para cada questão do ser humano existe uma história curativa. Acho que a Clarissa (Pínkola Estés) disse alguma coisa assim.
JS - Como você vê o panorama da contação de histórias no Brasil de hoje?
LV - Existem profissionais que desenvolvem pesquisas primorosas, mas a contação virou uma moda que pode acabar transformando a arte de contar histórias em algo extremamente descartável como o batom da estação. Às vezes, quando recebo as programações dos seminários e encontros de contadores nos estados e municípios fico pesaroso, pois constato que os contadores de causo de cada lugar são muito pouco prestigiados. Preferem pagar passagem aérea, hospedagem e alimentação para o/a incrível contador/a de histórias que conta em parada de mão com uma banana enfiada no ouvido. Detalhe: ela conta de costas para o público. Cada estado tem um acervo riquíssimo de histórias populares e, certamente, tem quem as conte. E aquele jeito de contar que encanta é que é o jeito certo de contar. Que vivam e sobrevivam as diferenças!!!
JS - O que você recomenda para os jovens que queiram conhecer melhor esta forma de expressão artística e se profissionalizar?
LV - Ouvir muitas histórias e ler toda a obra dos irmãos Grimm. Ahhh, e não ter pressa nenhuma em se profissionalizar...
JS. Quem é Laerte Vargas por Laerte Vargas?
LV - Um menino que tem medo do boi da cara preta.
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